Desafio: acompanhar protocolos de segurança na volta da torcida aos estádios de futebol

Eliseu Alves Waldman alerta que é fundamental que se incentive a participação das pessoas vacinadas e que se mantenha um rigoroso cuidado em relação ao uso de máscaras, higiene das mãos e distanciamento

 18/08/2021 - Publicado há 3 anos
Por
Torcedor que retornar ao estádio deve apresentar teste de antígeno ou PCR negativo, ou o comprovante de duas doses da vacina – Foto: Fotos públicas
Logo da Rádio USP

A vacinação contra a covid-19 finalmente avança no Brasil, ao menos em regiões centrais, como indica a cidade de São Paulo, que já tem 100% dos adultos acima de 18 anos com pelo menos uma dose. Com isso, o governador do Estado, João Doria, agendou para novembro a volta do público aos estádios de futebol. Nacionalmente, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) já definiu as regras para essa retomada. Mas com poucos brasileiros imunizados completamente a partir das duas doses da vacina e a ameaça de novas variantes, especialistas indicam que o caminho deve ser de cuidado.

“Em algum momento a gente tem que voltar às atividades econômicas e de lazer”, afirma o professor Eliseu Alves Waldman, da Faculdade de Saúde Pública da USP, mas também alerta que “é importante paralelamente ao processo de reabertura de atividades o fortalecimento com a mesma intensidade da vigilância”, o que previne o surgimento de novas variantes do coronavírus, cuja infecção ainda pode acontecer entre vacinados.

De acordo com o protocolo de retorno da CBF, divulgado em agosto, o torcedor que retornar ao estádio (a data da volta em si ainda não está confirmada) deve apresentar teste de antígeno ou PCR negativo, ou o comprovante de duas doses da vacinação. 

Quanto ao número de pessoas liberadas para cada partida, as regras determinam um cálculo que considera seis variáveis, que incluem as taxas de mortalidade e vacinação no Brasil. “O que é fundamental é que se incentive a participação das pessoas vacinadas e que mantenham, independentemente da situação vacinal, um rigoroso cuidado em relação ao uso de máscaras, higiene das mãos, principalmente, e distanciamento”, alerta o professor.

Hoje, os principais clubes do Brasil disputam três campeonatos, sendo dois nacionais e um continental. A presença de torcedores nas arquibancadas ainda não acontece. Porém, pelo menos desde o começo do ano, algumas exceções aparecem. Em partidas como as finais da Copa América e da Libertadores, em janeiro e julho, respectivamente, foi possível acompanhar torcedores desrespeitando os protocolos de distanciamento e de máscaras citados pelo professor Waldman.

“As autoridades devem informar adequadamente a população e especificamente as pessoas que são frequentadoras desses estádios para que sejam bem orientadas previamente aos jogos”, acrescenta. No exterior, a volta do público aos estádios já acontecia mesmo antes do início da vacinação. A Inglaterra, por exemplo, já realizava jogos com torcida em agosto de 2020. Mas a experiência mostra que esse não foi o caminho ideal. Com cerca de 50 mortes por dia, o governo decidiu suspender jogos com torcida, só retornando com o início da vacinação.

Impacto financeiro

Estádio vazio – Foto: Flickr

As receitas dos clubes de futebol contam com diversas fontes de recurso. Passam pelos direitos de transmissão de jogos, pela venda de jogadores, patrocínio e finalmente pelo dinheiro arrecadado em bilheterias. Desde o começo da pandemia, o último encontra-se defasado pela ausência de torcedores nos estádios.

Com relação ao dinheiro da bilheteria, a professora Flávia da Cunha Bastos, da Escola de Educação Física e Esporte da USP, explica que “essa receita não é muito significativa. As maiores receitas são de transmissão, de TV”. Por essa razão, ela analisa da seguinte forma: “Eu vejo sinceramente como uma questão de ‘braço de ferro’, de força de política, mesmo porque a própria CBF já tem um programa de retomada, uma ideia, um processo de como seria essa retomada do público”. Hoje, clubes como Flamengo e Atlético Mineiro são protagonistas ao pedirem no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) a volta de suas torcidas aos estádios.

Uma das dificuldades citadas pela professora Flávia em uma possível volta em escala nacional seria garantir a segurança dos torcedores em dias de jogo, até porque a chegada do público passa muitas vezes por aglomerações fora dos estádios e no transporte público. Por essa razão, a mobilização deve ser conjunta para garantir essa segurança: “O governo em si não tem um papel direto, e o clube sim, que é quem vai sediar o jogo, é quem vai ter que garantir esses protocolos”, aponta Flávia.


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.