A vacinação contra a covid-19 finalmente avança no Brasil, ao menos em regiões centrais, como indica a cidade de São Paulo, que já tem 100% dos adultos acima de 18 anos com pelo menos uma dose. Com isso, o governador do Estado, João Doria, agendou para novembro a volta do público aos estádios de futebol. Nacionalmente, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) já definiu as regras para essa retomada. Mas com poucos brasileiros imunizados completamente a partir das duas doses da vacina e a ameaça de novas variantes, especialistas indicam que o caminho deve ser de cuidado.
“Em algum momento a gente tem que voltar às atividades econômicas e de lazer”, afirma o professor Eliseu Alves Waldman, da Faculdade de Saúde Pública da USP, mas também alerta que “é importante paralelamente ao processo de reabertura de atividades o fortalecimento com a mesma intensidade da vigilância”, o que previne o surgimento de novas variantes do coronavírus, cuja infecção ainda pode acontecer entre vacinados.
De acordo com o protocolo de retorno da CBF, divulgado em agosto, o torcedor que retornar ao estádio (a data da volta em si ainda não está confirmada) deve apresentar teste de antígeno ou PCR negativo, ou o comprovante de duas doses da vacinação.
Quanto ao número de pessoas liberadas para cada partida, as regras determinam um cálculo que considera seis variáveis, que incluem as taxas de mortalidade e vacinação no Brasil. “O que é fundamental é que se incentive a participação das pessoas vacinadas e que mantenham, independentemente da situação vacinal, um rigoroso cuidado em relação ao uso de máscaras, higiene das mãos, principalmente, e distanciamento”, alerta o professor.
Hoje, os principais clubes do Brasil disputam três campeonatos, sendo dois nacionais e um continental. A presença de torcedores nas arquibancadas ainda não acontece. Porém, pelo menos desde o começo do ano, algumas exceções aparecem. Em partidas como as finais da Copa América e da Libertadores, em janeiro e julho, respectivamente, foi possível acompanhar torcedores desrespeitando os protocolos de distanciamento e de máscaras citados pelo professor Waldman.
“As autoridades devem informar adequadamente a população e especificamente as pessoas que são frequentadoras desses estádios para que sejam bem orientadas previamente aos jogos”, acrescenta. No exterior, a volta do público aos estádios já acontecia mesmo antes do início da vacinação. A Inglaterra, por exemplo, já realizava jogos com torcida em agosto de 2020. Mas a experiência mostra que esse não foi o caminho ideal. Com cerca de 50 mortes por dia, o governo decidiu suspender jogos com torcida, só retornando com o início da vacinação.
Impacto financeiro
As receitas dos clubes de futebol contam com diversas fontes de recurso. Passam pelos direitos de transmissão de jogos, pela venda de jogadores, patrocínio e finalmente pelo dinheiro arrecadado em bilheterias. Desde o começo da pandemia, o último encontra-se defasado pela ausência de torcedores nos estádios.
Com relação ao dinheiro da bilheteria, a professora Flávia da Cunha Bastos, da Escola de Educação Física e Esporte da USP, explica que “essa receita não é muito significativa. As maiores receitas são de transmissão, de TV”. Por essa razão, ela analisa da seguinte forma: “Eu vejo sinceramente como uma questão de ‘braço de ferro’, de força de política, mesmo porque a própria CBF já tem um programa de retomada, uma ideia, um processo de como seria essa retomada do público”. Hoje, clubes como Flamengo e Atlético Mineiro são protagonistas ao pedirem no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) a volta de suas torcidas aos estádios.
Uma das dificuldades citadas pela professora Flávia em uma possível volta em escala nacional seria garantir a segurança dos torcedores em dias de jogo, até porque a chegada do público passa muitas vezes por aglomerações fora dos estádios e no transporte público. Por essa razão, a mobilização deve ser conjunta para garantir essa segurança: “O governo em si não tem um papel direto, e o clube sim, que é quem vai sediar o jogo, é quem vai ter que garantir esses protocolos”, aponta Flávia.
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