A colunista Giselle Beiguelman comenta em Ouvir Imagens sobre o aumento alarmante dos números de mortos pela covid-19 (clique no player acima). Destaca o impacto da pandemia na paisagem urbana, registrado pelo fotógrafo Leonardo Finotti e a arquiteta Michelle Jean de Castro. “No projeto Necropoli[s]tics (2020-21), eles nos revelam a dimensão da tragédia brasileira, a partir de uma série fotográfica feita com drones há mais de um ano, registrando o cemitério da Vila Formosa, em São Paulo”, explica. “É digno de nota que esse é o maior cemitério da América Latina e que ali foram abertas 8 mil covas rasas para receber as vítimas da covid-19 da cidade.”
Os registros da série Necropoli[s]tics resultaram em mais de 600 imagens. “Elas permitem visualizar o desaparecimento da vegetação no cemitério, que vai cedendo lugar aos recorrentes enterros, e isso cria uma escala do imponderável: a da medida do terreno vazio preenchido pela morte.”
Outro projeto que a professora cita é a série Aprisionados (2021), do fotógrafo Marcos Piffer. “O foco é documentar os trabalhadores da praia com os carrinhos que vendem bebidas na Baixada Santista. Com o agravamento da pandemia no Brasil e o fechamento das praias no litoral paulista, essa paisagem tornou-se lúgubre.”
Na avaliação avaliação de Giselle Beiguelman, as imagens das séries Aprisionados, de Marcos Piffer, e Necropoli[s]tics, de Leonardo Finotti e Michelle Jean de Castro, alinham-se com o repertório crítico que vem da fotografia. “Não se trata, portanto, de fotos que estetizam a tragédia, buscando compensar, tecnicamente, o flagelo da pandemia pela construção de visões arrebatadoras do caos. Trata-se, ao contrário de, no meio do vazio, fazer a presença da morte e da interrupção da vida falarem.”
Ouvir Imagens
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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