Risco de morte no Brasil muda de desnutrição para obesidade

Dados do Global Burden of Diseases, Injuries and Risk Factors Study, publicados na revista “Lancet”, chamam a atenção para as doenças com maiores riscos de morte, entre elas a obesidade, cujo crescimento desbancou a desnutrição como fator de risco

 03/02/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 08/02/2021 as 16:20
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A obesidade é um desequilíbrio entre a quantidade de calorias consumidas e a quantidade que se gasta – Foto: Pixabay

 

Em dez anos, o maior fator de risco de morte no Brasil mudou de desnutrição para alto Índice de Massa Corporal (IMC) ou excesso de peso. Os dados são do Global Burden of Diseases, Injuries and Risk Factors Study, conhecido como relatório GBD, e foram publicados na revista Lancet. O estudo envolveu 3,6 mil pesquisadores em todo o mundo, apontando as doenças que oferecem maiores riscos de morte. 

Para os brasileiros, chamou a atenção o crescimento da obesidade como maior fator de risco em 2019, desbancando a desnutrição, líder desse ranking no País em 2009. Pelo estudo, o Brasil saiu da condição de mortalidade de desnutridos – baixa ingestão de nutrientes que agrava perda muscular e anemia, por exemplo – para a de obesos, que pode desencadear pressão alta, diabete, colesterol elevado, trombose e doenças cardiovasculares.

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A nutricionista e pós-doutoranda da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP, Flávia Giolo de Carvalho, explica que a obesidade é um desequilíbrio entre a quantidade de calorias consumidas e a quantidade que se gasta. E, argumenta Flávia, as mudanças de rotina influenciam diretamente esse gerenciamento de calorias. 

“Quanto mais a modernidade avança, maior a tendência em consumir alimentos industrializados e maior é o sedentarismo”, ressalta, alertando para as alterações no estilo de vida ou na carga horária de trabalho, o aumento do nível de estresse psicológico e a insegurança financeira. Segundo a nutricionista, estes são alguns fatores que interferem no comportamento alimentar.

Como resultado dessas mudanças, a pesquisadora destaca o sedentarismo e, além dele, o tempo de as pessoas cuidarem da saúde que também diminuiu. As pessoas hoje em dia, diz Flávia, andam cada vez menos a pé, “até por questão de segurança, o que as torna ainda mais sedentárias”. 

Outro fator, destacado pela nutricionista, é a industrialização dos alimentos, acompanhada pelas intensas ações de marketing dos fast-foods e alimentos processados, ricos em açúcares e gorduras, que contribuem de forma negativa para o controle da obesidade.

Os números da obesidade no Brasil 

Flávia destaca que, desde 2003, o sobrepeso e a obesidade no Brasil “já necessitavam de uma atenção especial” e que, desde então, “a situação só se agravou e evoluiu”. Em 2003, cerca de 50% da população brasileira estava com o peso acima do recomendado e, em 2019, esse número saltou para 63% e foi acompanhado pela obesidade. Em 2003 eram 12% e atualmente chega a quase 30% o número de obesos no País. 

Essa realidade atinge também a população infantil. Segundo dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, cerca de 16% das crianças brasileiras, entre 5 e 10 anos, estão com sobrepeso; 9% com obesidade e 5% com obesidade grave.

Como evitar a obesidade infantil

A educação alimentar infantil é fundamental para evitar que esses números cresçam, afirma Flávia. “Iniciar a abordagem de alimentação saudável na infância, além de apresentar conceitos alimentares saudáveis, é importante tanto para o desenvolvimento de hábitos saudáveis quanto para a obtenção dos nutrientes necessários para o crescimento saudável da criança.”

A nutricionista destaca a importância do exemplo dos pais nesse processo, comendo frutas, legumes e verduras e mantendo um estilo de vida saudável para que a criança cresça num ambiente também saudável. Lembra ainda que a criança deve ser estimulada à prática de esportes para a saúde e bom desenvolvimento psicomotor. 

Já a coordenadora da Equipe de Terapia Nutricional do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP, a professora Vivian Suen, divide a responsabilidade dos pais pela alimentação e desenvolvimento saudável das crianças com o poder público. “O poder público precisa ter consciência e promover campanhas que orientem sobre a obesidade, para este número não se agravar ainda mais”, garante ela. 

Os desafios do tratamento 

“É um desafio muito grande tanto para nós, profissionais de saúde, quanto para os pacientes”, diz a professora Vivian sobre a obesidade no País. Contudo, assume como fundamental a acolhida à pessoa que sofre com o problema, afirmando que o profissional de saúde deve “trabalhar junto com ela, mostrando que a obesidade é realmente uma doença”. 

E, continua a professora, “precisamos trabalhar em parceria com o paciente, fazer ele entender a importância do tratamento e estabelecer metas atingíveis, dando um passo de cada vez. E como é uma doença crônica, o tratamento é para o resto da vida”, ressalta ela. 


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