Reabilitação de disfunções orofaciais rende prêmio ao Centrinho de Bauru

Os professores Carlos Ferreira dos Santos e Giedre Berretin comentam a premiação envolvendo o trabalho interdisciplinar voltado ao avanço medicinal da terapia miofuncional, realizado no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (Centrinho), em Bauru

 27/08/2020 - Publicado há 4 anos

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, especialistas conversam sobre a premiação recebida pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais – mais conhecido como Centrinho – em função do trabalho interdisciplinar voltado ao avanço medicinal da terapia miofuncional. O Prêmio Centros de Luz foi concedido pela Academia de Ciências Miofuncionais Aplicadas Academy of Applied Myofunctional Sciences dos Estados Unidos, no último dia 22, durante o 5º Congresso da AAMS.

O professor Carlos Ferreira dos Santos, superintendente do HRAC e diretor da Faculdade de Odontologia da USP de Bauru, explica que as terapias miofuncionais têm como objetivo a reabilitação das disfunções orofaciais, relacionadas à respiração, mastigação, deglutição e à fala, problemas advindos de malformações craniofaciais ou neurológicos, tanto adquiridos ao longo da vida quanto desde o nascimento. Para realizar as operações de correção das deformidades craniofaciais é utilizada uma equipe interdisciplinar para garantir que o paciente atinja o desenvolvimento pleno das funções antes prejudicadas. Vários pacientes precisam “aprender a respirar bem, a mastigar bem, a engolir bem, a falar bem, então, para isso,  precisamos de uma equipe com vários profissionais para que possamos melhorar  a qualidade de vida dessa pessoa, então participam médicos, cirurgiões dentistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, educadores físicos, psicólogos e nutricionistas”.

A professora Giedre Berretin, do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia da USP de Bauru, informa que a premiação coroa o trabalho iniciado por ela durante a graduação com pesquisas voltadas a pacientes que apresentam alterações das estruturas da face: “Foi o reconhecimento dos esforços que foram somados a partir dos trabalhos que desenvolvi voltados para a avaliação dos distúrbios miofuncionais orofaciais, que impactam na comunicação, principalmente na fala, na respiração e na alimentação”, e complementa: “Hoje temos protocolos que foram desenvolvidos no Brasil e traduzidos para o inglês num trabalho de pós-graduação orientado pelo professor Carlos e eu, possibilitando que esse diagnóstico assertivo possa ser realizado não apenas no nosso País, mas em todo o mundo”. 

Giedre compartilha que não só o diagnóstico das disfunções orofaciais é fundamental, mas também o tratamento e a reabilitação: “Temos desenvolvido, ao longo desses anos, propostas de intervenção, ensaios clínicos, pesquisas clínicas que são pioneiras e têm demonstrado a eficácia da atuação da miofuncional orofacial para que o indivíduo, após a correção por procedimento médico, cirúrgico e odontológico, possa resgatar o funcionamento harmônico e adequado da fala, da comunicação, da alimentação e até mesmo da estética facial, porque a forma como desempenhamos essas funções impacta também na estética da nossa face”. 

Segundo o superintendente Ferreira dos Santos, o HRAC possui cerca de 120 mil pessoas matriculadas e 50 mil pacientes ativos. “Esse é um número que realmente impressiona o mundo por ser de uma instituição pública e dar um tratamento gratuito, com verbas do SUS, da USP e de outros convênios. Dentre esses paciente, alguns deles têm hábitos que podem implicar problemas e as terapias miofuncionais vão ser muito importantes. Por exemplo, pacientes que têm o hábito de respirar pela boca, pacientes que mastigam só de um lado e outros tipos de problema, como inserção do frênulo lingual.”

A professora Giedre foi pioneira no desenvolvimento dos protocolos para a realização do teste da língua em bebês, que visa a identificar o frênulo lingual, popularmente conhecido como língua presa. Atualmente, a testagem em bebês é regulamentada pela Lei nº 13.002, de 20 de junho de 2014, o que eleva o Brasil ao título de primeiro país do mundo a ter obrigatoriedade da avaliação do frênulo lingual em recém-nascidos. Quando há alteração, o bebê tem dificuldade para sugar, cansa por não conseguir manter a língua elevada, comprimindo o mamilo para extrair o leite, acaba tendo poucas sucções e muitas pausas. Além disso, o frênulo lingual não permite a elevação do músculo e, com isso, a língua não ocupa a posição correta para pressionar o palato para que o céu da boca se expanda: “Temos estudos que mostram essa relação. Hoje nós temos um protocolo de avaliação do frênulo de língua em bebês, a triagem para essa avaliação, que também foram trabalhos desenvolvidos no nosso programa de pós-graduação da FOB; esse protocolo já foi traduzido para muitas  línguas e tem sido adotado em diferentes países”, finaliza a professora.

Ouça entrevista na íntegra pelo player acima.


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