Há relações intrínsecas entre o mercado ilícito e o Estado no Brasil

Entender economias ilegais, como tráfico de drogas, demanda compreensão do sistema de justiça, diz pesquisadora

 17/06/2019 - Publicado há 5 anos
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Registro de apreensão de contrabando – Foto: Assessoria de Comunicação da Receita Federal em São Paulo

A Revista de Economias Ilícitas e Desenvolvimento, Journal of Illicit Economies and Development (JIED), da London School of Economics, publicou recentemente uma edição especial com pesquisas de ponta sobre mercados ilícitos no Brasil. A publicação é organizada por Luiz Guilherme Mendes de Paiva, pesquisador Associado do Centro de Políticas Internacionais de Drogas do International Drug Policy Unit (LSE) e ex-secretário de Política de Drogas do Ministério da Justiça de 2015 a 2016; Gabriel Feltran, pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) e pesquisador visitante na Universidade de Oxford e do Goldsmiths College (CUCR); e Juliana de Oliveira Carlos, doutoranda em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) e assessora da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.

“A tradição de estudos brasileiros parte da premissa analítica de que existem relações intrínsecas entre o legal e o ilegal. Crime e justiça, mercados ilícitos e controle social são regimes que coexistem, são diferentes, mas, para entender uma esfera, se deve entender a outra”, explica Juliana de Oliveira Carlos, doutoranda em sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e assessora da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.

Embora esse campo de pesquisa seja bastante consolidado aqui no Brasil, ele não tem a circulação desejada, seja pela barreira do idioma, seja pela falta de veículos. E, conforme Juliana, entender as economias ilícitas brasileiras é importante para se traçar um cenário global, dado que o País é uma importante rota e também grande parcela do mercado consumidor. “Tráfico de drogas, mercadorias ilegais, contrabando, tráfico de armas são todas economias com características internacionais, é difícil de mensurar a dimensão de cada país nesses mercados. Por isso, é importante ter um olhar que vá além das fronteiras”, declara a pesquisadora.

A relação entre o sistema de justiça e o tráfico de drogas é um dos destaques da edição do periódico internacional. “Apesar da produção acadêmica significativa a respeito da repressão ao narcotráfico, há uma total desconexão entre as evidências científicas e a ação dos tribunais. O sistema jurídico não se apoia nos resultados empíricos, simplesmente os ignora”, aponta a assessora.

Fora esse tema, a revista traz pesquisas sociológicas, antropológicas, quantitativas e trabalhos de campo, não só de nomes já consolidados das ciências humanas brasileiras, como o carioca Michel Misse e Luiz Guilherme Mendes de Paiva, doutor pela USP, mas também dá espaço para a nova geração de pesquisadores. O grupo Movimentos, um coletivo do Rio de Janeiro, formado por jovens periféricos, também publicou um artigo. “É a voz dos mais afetados pelas economias ilícitas”, esclarece Juliana. A revista tem conteúdo aberto para leitura, bem como download. Para acessar clique aqui.


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