Ao menos 200 cidades do Brasil tiveram manifestações e os atos, na maioria dos casos, foram pacíficos. Foi a primeira grande onda de protestos durante o governo de Jair Bolsonaro, pouco mais de quatro meses após ele ter tomado posse. Em Dallas (EUA), o presidente classificou os manifestantes de “idiotas úteis” e “imbecis”. A grande imprensa ressalta as cobranças ao governo, na primeira grande mobilização popular.
O Jornal da USP no Ar entrevistou o professor de Ética e Filosofia Política Renato Janine Ribeiro, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e ex-ministro da Educação. “É importante mobilizar o País em torno de pautas positivas, como conhecimento, ciência e tecnologia. A USP é a melhor do Brasil e está sob suspeita de CPI. Várias universidades, e a transformação proporcionada pela educação, estão ameaçadas pelo governo”, declara. Segundo ele, o mais chocante não são os cortes, mas sim o tom de bravata de Weintraub ao declará-los.
“Cada hora o governo fala algo. De início, cortou 30% das verbas de três universidades, por divergências ideológicas, as chamando de imorais. Quando percebeu que o que fazia era inconstitucional, passou o contingenciamento para 30% de todas as instituições, enquanto alegou transferência desses recursos para a educação básica, porém não anuncia nenhum projeto”, conta Janine Ribeiro. Na verdade, os congelamentos orçamentários também chegaram ao ensino fundamental. “Eles estão perdidos, ora o corte é de 30%, ora é de 3,5%. Último número não faz sentido, inclui despesas que não podem ser cortadas”, explica.
O professor, que foi ministro da Educação, ressalta a importância de um planejamento para a pasta. “Independentemente de direita ou esquerda, a educação melhora o país. É o principal insumo de uma sociedade liberal. O Executivo discute apenas a Previdência Social, ainda que esqueça a importância de mão de obra qualificada, de um povo inteligente e bem formado. Esses são os sustentáculos do desenvolvimento do Atlântico Norte, além de políticas sociais bem desenvolvidas”, argumenta. Ele defende que a falta de recursos é um problema sério, mas não desculpa para desmantelar projetos. “No aperto os planos precisam ser melhores. Não dá para ministros ficarem atacando órgãos, com um discurso destrutivo. Weintraub foi à Câmara dos Deputados, fugiu dos temas abordados e causou inquietações”, expõe.
Completam-se 25 anos que o Brasil trata educação como política de Estado, desde a administração de Murílio de Avellar Hingel, no governo Itamar Franco. Se Weintraub quisesse investir na educação básica, buscaria os fundos de financiamento já existentes. Fernando Henrique Cardoso criou o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), destinado ao ensino fundamental. O ex-presidente Lula depois o expandiu para o ensino médio, dando origem ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). “Sem aplicação nesses fundos os municípios não terão dinheiro para pagar professores. Optar entre educação superior e básica não é uma escolha de Sofia, na qual a mãe decide qual das filhas morre pela mão dos nazistas. Estão matando ambas. Destrói-se parques de pesquisas e instituições públicas, sem respostas no outro lado da pirâmide educacional”, alega Janine Ribeiro.
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