Antissemitismo na Alemanha do século 19 não intimidou o povo judeu

Historiadora conta aos “Novos Cientistas” as motivações que a levaram a estudar o antissemitismo na Alemanha do século 19, época em que seus avós lá viveram

 02/05/2019 - Publicado há 5 anos
Por

jorusp

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Miriam Bettina Paulina Bergel Oelsner é historiadora e realizou uma pesquisa na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a partir de sua história de vida. “Não conheci meus avós, que eram alemães, e somente aos 15 anos fui apresentada a um membro da família, quando visitei a Alemanha”, contou a pesquisadora em entrevista a Os Novos Cientistas. A avó materna de Miriam e demais familiares foram mortos nas câmaras de gás em Auschwitz, em 1942.

Essa ruptura familiar causada pela imigração de judeus fugitivos do nazismo, no século 20, motivou Miriam a empreender a pesquisa de doutorado A gênese do nacional-socialismo na Alemanha do século 19 e a autodefesa judaica, orientada pela professora Anita Waingort Novinsky. Nos anos iniciais do regime nazista seus pais abandonaram a Alemanha e chegaram ao Brasil, em 1935, anos antes da eliminação em massa de judeus.

Na pesquisa, a historiadora analisa, por exemplo, como a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) expôs o país a uma forte “humilhação”, situação explorada pela ultradireita que defendia valores do início do século 19. O estudo mostra o empenho de alguns alemães em tornar a Alemanha um Estado laico e menos desigual, na “Era das Revoluções”, em 1848, quando seus combatentes, judeus e não judeus foram perseguidos pelo exército de Otto von Bismarck, um dos idealizadores do 2º Reich (1871-1918) que levou à criação de um Estado único, ou à unificação da Alemanha em 1871.

Mais tarde, no ano de 1893, quando o antissemitismo atingiu níveis alarmantes, líderes da comunidade judaica criaram uma associação de autodefesa, a Central Verein Deutscher Staatsbürger Jüdischen Glaubens (Associação Central dos Cidadãos Alemães de Fé Judaica), ou o CV, que vigorou até 1938, sofrendo um fim compulsório durante a estarrecedora “Noite dos Cristais Quebrados”, após 45 anos de atuação permanente. “Esta associação se difundiu por toda a Alemanha”, conta a historiadora, ressaltando que “foi o primeiro órgão de defesa dos judeus”.

O podcast Os Novos Cientistas vai ao ar toda quinta-feira, às 8 horas, dentro do Jornal da USP no Ar, que é apresentado diariamente pela jornalista Roxane Ré, das 7h30 às 9h30, na Rádio USP FM (93,7 MHz).


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