Uma gestão voltada para a sociedade

Pró-reitora de Cultura e Extensão Universitária, Maria Arminda do Nascimento Arruda, pretende fazer da área um canal de interlocução com a população, promovendo fóruns de debate e incrementando a visibilidade dos programas

 13/04/2010 - Publicado há 14 anos
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“Quero fazer uma gestão que desenvolva uma política de cultura e de extensão eminentemente públicas”. Assim a pró-reitora de Cultura e Extensão Universitária da USP, Maria Arminda do Nascimento Arruda (foto), resume seu principal objetivo à frente do cargo, que ocupa desde fevereiro deste ano. “Em primeiro lugar, considero importante que uma universidade como a USP tenha interlocução com a sociedade. A Pró-Reitoria, tal como eu a concebo, tem que desenvolver esse caráter. Em segundo lugar, tem de ser capaz de expressar o significado que a Universidade possui para a sociedade de São Paulo, para o Brasil e para fora dele”, explica.

Para Maria Arminda, um de seus grandes desafios é dar visibilidade aos programas e ações desenvolvidos no âmbito da Pró-Reitoria. “Eu me dei conta de que a comunidade USP não conhece a importância dos acervos museológicos que a Universidade tem, não conhece o profundo significado que as diferentes atividades de extensão possuem. Se a própria comunidade não conhece, como a sociedade vai conhecer? Temos público interno e externo para os quais precisamos mostrar o que fazemos, mostrar a importância de nossas atividades. Esta Pró-Reitoria tem museus, conta com um conjunto de instituições de cultura, de artes, música, teatro, cinema, além de desenvolver programas na área social e de extensão de grande relevância. Proponho que a área de cultura e extensão seja um emblema, um sinal da importância da Universidade por causa de sua face pública”, avalia.

Nesse sentido, a pró-reitora enumera duas ações de incremento à comunicação que já foram colocadas em prática: a remodelação do site da Pró-Reitoria e a criação de um blog institucional e de um microblog na rede social Twitter.

Posição estratégica

Para Maria Arminda, a cultura e a extensão possuem, hoje, uma posição estratégica não apenas na Universidade, mas no contexto social como um todo. “A USP ocupa um lugar privilegiado, pois é capaz de oferecer os meios indispensáveis ao ingresso, circulação e difusão da cultura e da ciência, tanto no meio universitário quanto no meio externo a ele. O sentido da reflexão e da ação de uma instituição pública do porte da USP é oferecer alternativas à tendência hegemônica de mercantilização da cultura e ser capaz de criar meios de acesso amplo à produção cultural.
Nesses termos, cultura e extensão são pares unidos, harmônicos e indissociáveis”, define.

Como forma de fomentar esse debate, uma das primeiras ações desenvolvidas pela nova pró-reitora é a promoção, em agosto deste ano, do Fórum de Cultura e Extensão, que envolverá as demais universidades públicas atuantes no Estado: Unicamp, Unesp, Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade Federal do ABC (UFABC). O objetivo do encontro será discutir a essência e o caráter da relação entre cultura e extensão, socializar experiências e inovar na busca de um plano comum de ação que se articule com as demais Pró-Reitorias, segundo a pró-reitora.

Cultura da periferia

Definindo-o como “ponta mais avançada disso que estou chamando de cultura pública”, a pró-reitora destaca também a promoção, ainda sem data definida, de um Festival Universitário Internacional de Cultura de Periferia, que pretende explorar o binômio cultura-cidadania a partir da reflexão sobre a importância da expressão popular nas sociedades contemporâneas.

“Nas universidades, há um desafio cultural muito próprio do mundo contemporâneo. Há um processo cultural que tem ocorrido no mundo de manifestações e linguagens culturais que saíram do núcleo mais erudito da produção da cultura e aparecem em contextos populares. Há um processo cultural longo e é importante entendê-lo não só por causa da dimensão pública que isso pressupõe, a de desenvolver políticas públicas, mas também porque a cultura contemporânea pressupõe essa incorporação”, acredita.Outra ação a ser desenvolvida é a de levar os eventos da Pró-Reitoria aos campi do interior, criando uma espécie de Pró-Reitoria itinerante. “O intuito é que todas as atividades promovidas no campus de São Paulo se estendam para o interior, da mesma forma que as iniciativas que nasçam nesses campi também possam ser promovidas aqui”, diz.

Além dos novos projetos, a pró-reitora enfatiza, em sua gestão, a continuidade de programas iniciados em administrações anteriores. “Uma atividade pública consequente e responsável não pode zerar o que está pronto, que foi realizado e que apresente qualidade”, julga.

Desafio profissional

Assumir a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP é, para Maria Arminda, “um desafio único na minha vida, não só como professora da Universidade, mas como socióloga e, principalmente, como socióloga da cultura”, considera ela, que é graduada em Ciências Sociais , com mestrado e doutorado em Sociologia. Desde 2005, é professora titular do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Dedica-se aos estudos da sociologia cultural, com ênfase em literatura, artes, pensamento social, história intelectual e meios de comunicação de massa.

“Algumas questões já faziam parte do meu trabalho, por exemplo, trabalhar conceitualmente e mostrar que a cultura não é um conjunto de instituições artísticas desconectadas do mundo. Isso já fazia parte do meu métier, das pesquisas que realizei e realizo. Não estou em um terreno estranho. É estranho no sentido de novo, do desafio, mas não como prática docente e de pesquisadora”, estima.

A única dificuldade neste momento, afirma ela de forma descontraída, é conseguir administrar a agenda diária de compromissos. “Quando aceitei o convite do reitor João Grandino Rodas, sabia que não seria tranquilo do ponto de vista do trabalho, mas conto com ótimos assessores”, diz. “Estou à disposição da comunidade para ouvir sugestões e críticas. Sou de família grande e estou acostumada a ouvir muita gente. Além disso, todo sociólogo sabe que não se vive só e o resultado de nossas ações é sempre coletivo. Nossas ações se transformam em função do coletivo”, completa.

(Matéria publicada na edição nº 891 do Jornal da USP / foto: Cecília Bastos)

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