O termo samba-canção pode ser usado em referência a uma peça do vestuário íntimo masculino, mas originalmente remete ao estilo musical que surgiu em 1929 no Rio de Janeiro. Até 1958, essa vertente do samba continuaria viva através dos artistas que frequentavam o bairro de Copacabana.
Durante esse período, o paulistano Zuza Homem de Mello passava as férias na capital carioca. Ele é autor do livro Copacabana – A Trajetória do Samba-Canção (1929-1958), em que recupera as referências que deram vida a esse estilo musical. Publicado pela Editora 34 e Edições Sesc, o livro será lançado nesta quarta-feira, dia 6 de dezembro, às 19 horas, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Avenida Paulista, 2.073, em São Paulo).
“Eu tinha quase uma obrigação de fazer essse livro. Essas músicas fizeram parte da minha juventude”, afirma Zuza, que atualmente produz e apresenta o programa Playlist do Zuza, na Rádio USP (93,7 MHz), que vai ao ar toda sexta-feira, às 17h05, com reapresentação no sábado, às 10 horas.
A obra é resultado de mais de dez anos de pesquisas, que tiveram como fonte tanto o seu acervo pessoal como seus próprios amigos, entre cantores e compositores. O intuito foi resgatar a história de um momento da música brasileira que,”se não é ignorado, é desprezado”, coloca.
A elaboração do livro incluiu consultas minuciosas a publicações que tinham relação com o tema. Outra etapa importante foi reescutar as músicas da época. “Sem ouvi-las, não tinha como completar a pesquisa”, diz Zuza, que para isso recorreu à sua coleção de discos de vinil.
Aracy Cortes
O samba-canção precedeu a bossa nova, mas não foi tão lembrado como ela. Ele tem data de início e de fim: vai de 1929, quando Aracy Cortes gravou Linda flor, até 1958. O estilo foi adotado por compositores como Ary Barroso, Dorival Caymmi, Cartola, Lupicínio Rodrigues e Tom Jobim.
O sucesso do samba-canção foi maior a partir de 1946, chegando à voz de intérpretes como Linda Batista, Dalva de Oliveira, Nora Ney, Elizeth Cardoso, Dolores Duran e Maysa. Foi naquele ano que Dick Farney gravou pela primeira vez Copacabana, um sucesso imediato.
Para aqueles que têm pouco ou nenhum contato com o samba-canção, Zuza faz o convite de ler o livro e depois buscar pelas músicas na internet — afinal, não são todos que, como ele, desfrutam de discos de 78 rotações dentro de casa.
Carreira múltipla
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Nascido em 1933, Zuza Homem de Mello usa os anos de vida como vantagem para acumular conhecimentos. O seu lado de jornalista, escritor e radialista se une ao de musicólogo e produtor para ser um dos maiores conhecedores atuais da música brasileira.
Ele é autor de livros como Música Popular Brasileira Cantada e Contada (Melhoramentos, 1976) e Música com Z (Editora 34, 2014).
Zuza organizou o Festival de Verão do Guarujá, que teve a participação de artistas como Luiz Gonzaga, Raul Seixas e Djavan, e três edições do Festival Carrefour. Foi convidado para festivais internacionais nos Estados Unidos e na Europa, da França à Suíça. Produziu os shows de Milton Nascimento no Japão, em 1988, e diversos discos com nomes consagrados da MPB, como Elis Regina e Orlando Silva.
Em comemoração ao lançamento do livro, o escritor apresentou uma edição do programa Playlist do Zuza dedicada inteiramente ao samba-canção, que foi ar ar, pela Rádio USP, no dia 1º de dezembro. O áudio está disponível neste link.
Copacabana – A Trajetória do Samba-Canção (1929-1958), Editora 34/Edições Sesc, 512 páginas, R$ 82,00. O lançamento será nesta quarta-feira, dia 6 de dezembro, às 19 horas, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Avenida Paulista, 2.073, São Paulo).