Congresso celebra 80 anos do escritor João Antônio

Em 16 e 17 de novembro, especialistas vão discutir a obra do criador do conto-reportagem brasileiro

 13/11/2017 - Publicado há 6 anos
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O escritor João Antônio na redação da revista Realidade, em 1968. Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

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No ano em que comemoraria 80 anos, o escritor João Antônio Ferreira Filho (1937-1996) é tema de congresso na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. O evento, que acontece nos dias 16 e 17 de novembro, vai reunir 24 pesquisadores para falar da vida e das carreiras jornalística e literária do autor criado em Osasco e radicado no Rio de Janeiro.

João Antônio nasceu de pai português e mãe fluminense. Começou a trabalhar aos 8 anos como vendedor e vivenciou a boemia na juventude. Frequentou bares, sinucas e bordéis, que se tornariam matéria-prima de suas obras.

Seu livro de estreia, Malagueta, Perus e Bacanaço, foi publicado em 1963 para aclamação de público e crítica. Por ele, recebeu dois prêmios Jabuti (Revelação de Autor e Melhor Livro de Contos), o prêmio Paulo Prado e o prêmio da Prefeitura Municipal de São Paulo.“Existe um texto que ele publicou em Malhação do Judas Carioca como um anexo”, comenta a pesquisadora Clara Ornellas, uma das organizadoras do congresso. “Lá, ele demonstra a necessidade de uma literatura que represente os problemas sociais do País, como as favelas, os retirantes, as prisões.”

Praticando essa ideia, João Antônio coloca em cena o menino de rua, o pedinte, o jogador de sinuca, a prostituta, afirma a pesquisadora. “São seres à margem e ele dá humanidade a esses seres que não são vistos, são invisíveis socialmente.”

Depois da consagração literária com o primeiro livro, João Antônio passou a atuar como jornalista, contribuindo para veículos como o Jornal do Brasil, a revista Manchete e O Pasquim. Foi também um dos fundadores da revista Realidade, na qual publicou o primeiro conto-reportagem brasileiro, Um dia no cais, de 1968.

A partir de Malhação do Judas Carioca, publicado em 1975, João Antônio passa a incorporar ao texto elementos da escrita jornalística, aliados a um crescente teor autobiográfico, que caracterizariam sua obra a partir daí. “Malhação do Judas Carioca é considerado um divisor”, comenta Clara, “porque é onde vai se manifestar o jornalismo, no sentido de um levantamento da realidade, uso de dados estatísticos.”

Esse aspecto do trabalho do escritor será abordado no congresso pelo jornalista e pesquisador Bruno Zeni, finalista do Prêmio Jabuti 2017 com o livro Sinuca de Malandro – Ficção e autobiografia em João Antônio, publicado pela Editora da USP (Edusp). Zeni falará da formação do autor e da autobiografia como gênero misto, numa trajetória que combina memória e ficção.
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A máquina de escrever utilizada por João Antônio. Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

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Já a passagem de João Antônio pela imprensa ganha atenção na exposição de Rodrigo Souza Grota, que investiga a atuação do autor no jornal Panorama, publicação surgida em Londrina em 1975. Grota se debruça sobre a recriação das paisagens, dos personagens e das sonoridades locais em relatos que mesclam jornalismo e literatura.

O congresso dá destaque também para a relação de João Antônio com outro escritor brasileiro, Lima Barreto (1881-1922), homenageado da Feira Literária de Paraty (Flip) em 2017. O professor Augusto Massi, também organizador do evento, falará sobre Calvários e Porres do Pingente Afonso Henriques de Lima Barreto (1977), apresentando pesquisa inédita sobre um dos personagens centrais do livro.

“Essa obra é um conjunto de recortes da obra de Lima Barreto que João Antônio fez em paralelo com depoimentos de Carlos Nóbrega, que ele conheceu quando esteve no sanatório”, explica Clara.

Em 1970, João Antônio se internou voluntariamente no Sanatório da Muda da Tijuca e lá entrou em contato com Nóbrega, que teria conhecido Lima Barreto. “O material que Massi vai apresentar será muito instigante”, observa a pesquisadora. “Ele conseguiu nada menos que dados da existência mesmo desse depoente, Carlos Nóbrega.”

Ainda segundo Clara, a relação do escritor com Lima Barreto era de identificação. “O João Antônio era um grande admirador de Lima Barreto, por causa do viés crítico da sociedade e também da valorização dos personagens simples, pobres, suburbanos, que não têm lugar. E esses aspectos se relacionam com sua própria produção, que também representou os personagens da zona de exclusão, os marginalizados.”

O congresso 80 anos de João Antônio acontece nos dias 16 e 17 de novembro, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP (Avenida Professor Lineu Prestes, 338, Cidade Universitária, São Paulo). A coordenação do evento é dos professores Augusto Massi, Clara Ornellas e Tânia Macêdo. A inscrição para ouvintes custa R$ 10,00.


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