Mapa da fauna no planeta aponta prioridades para preservação

Inclusão de répteis conclui mapa da distribuição de vertebrados no planeta, que teve participação de cientistas da USP

 17/10/2017 - Publicado há 7 anos
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Pesquisadores do Instituto de Biociências da USP colaboraram com projeto que resultou em mapa global das espécies de vertebrados – Na imagem, a serpente Bothrops itapetiningae – Foto: Divulgação

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Um mapeamento global dos répteis, que inclui mais de 10 mil espécies de serpentes, lagartos e quelônios, acaba de ser concluído por um grupo de 39 cientistas de todo o mundo. O levantamento, combinado com dados sobre 5 mil espécies de mamíferos, 10 mil de aves e 6 mil de anfíbios, completa a síntese global que indica a distribuição das espécies de animais vertebrados no planeta e indica áreas prioritárias para conservação. A pesquisa, descrita em artigo da revista Nature Ecology & Evolution, foi liderada pelas Universidade de Oxford (Reino Unido) e Tel Aviv (Israel) e teve a contribuição de pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da USP.

A ideia por trás do projeto é a de que, para melhor proteger a vida silvestre, é preciso saber onde as espécies vivem, de forma que ações corretas sejam implementadas e recursos financeiros escassos sejam corretamente direcionados. Assim, o grupo internacional de pesquisadores produziu mapas detalhados da distribuição de todas as espécies conhecidas de répteis e juntou-os àqueles já existentes para os demais grupos de vertebrados terrestres do planeta, os mamíferos, as aves e os anfíbios.

A vez dos répteis

“Desde 2006 já havia mapas mostrando os hábitats desses grupos, porém faltavam informações sobre répteis, que começaram a ser reunidas em um trabalho coordenado pelo professor Shai Meiri, da Universidade de Tel Aviv”, conta o professor Márcio Martins, do IB, que participou da pesquisa. “Uma vez concluída essa avaliação, é possível estabelecer áreas prioritárias de preservação para o grupo dos répteis em todo o mundo.”

Cultivo da soja no cerrado brasileiro destrói vegetação nativa e pode comprometer a fauna. Na foto, lagarto da espécie Hoplocercus Spinosus – Foto: Divulgação

O padrão de distribuição das serpentes é semelhante ao das aves, mamíferos e anfíbios, ou seja, eles concentram-se principalmente em áreas de floresta tropical, como a Mata Atlântica e a floresta amazônica no Brasil. No entanto, explica o professor Martins, o levantamento demonstrou que a maior concentração de lagartos está em zonas áridas, de clima mais seco, como o deserto australiano. No Brasil, a maior ocorrência de répteis está na caatinga e, em menor grau, o cerrado. “Como não havia grande diversidade de outros grupos de animais, essas áreas não eram prioritárias em termos de conservação. Com o mapeamento, foi possível identificar espécies de lagartos e mostrar a importância da preservação dessas regiões”, ressalta, lembrando que no cerrado, por exemplo, o cultivo da soja tem destruído grandes extensões de vegetação nativa, o que pode comprometer a fauna.”

Biodiversidade

A caatinga na região Nordeste é considerada uma área de grande biodiversidade (hot spot) de lagartos, com mais de 60 espécies identificadas, muitas delas exclusivas dessa região. “A caatinga não é considerada uma área muito importante para a agricultura, exceto em pequena escala, por isso a terra não é tão valorizada”, afirma Martins. O custo da conservação foi avaliado na pesquisa pelo geógrafo Richard Grenyer, da Universidade de Oxford. “No caso da caatinga, essa é uma excelente oportunidade para implantar ações de preservação, já que a terra é menos valorizada do que na Amazônia, por exemplo, onde há muita especulação devido a atividades agropecuárias e a exploração madeireira.”

Caatinga no Nordeste brasileiro é um hot spot de espécies de lagartos. Na imagem, o Polychrus acutirostris, conhecido como lagarto-preguiça – Foto: Divulgação

O autor principal do artigo é o professor Uri Roll, atualmente na Universidade Ben Gurion do Neguev, em IsraelGurion do Neguev, em Israel. Além de Martins, outros três pesquisadores brasileiros integram o time de cientistas que realizaram o estudo: Cristiano Nogueira, pós-doutorando do IB; Marinus Hoogmoed, do Museu Paraense Emílio Goeldi; e Guarino Colli, da Universidade de Brasília (UnB). Há décadas esses pesquisadores reúnem dados sobre a distribuição geográfica dos répteis brasileiros e contribuem para a avaliação do seu risco de extinção.

A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) está atualmente classificando as espécies mostradas no mapa em uma Lista Vermelha, que mede risco de extinção em categorias, que variam desde “criticamente ameaçada” até “menos preocupante”. Uma vez completado esse trabalho, os dados estarão disponíveis livremente para o acesso e uso públicos.

Futuramente, a lista permitirá que diversos tomadores de decisão, desde países, organizações não governamentais, empresas ou pessoas, possam compreender melhor a biodiversidade em suas vizinhanças, reconhecer sua importância e, crucialmente, agir em prol de sua conservação. O artigo The global distribution of tetrapods reveals a need for targeted reptile conservation está disponível para leitura e download na página da revista Nature Ecology & Evolution.

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Mais informações: e-mail martinsmrc@usp.br, com o professor Márcio Martins

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