Sociólogo da USP analisa precarização do trabalho retratada em Nomadland

Na série Filme com o Especialista, professores da USP comentam trailers de filmes a partir de suas experiências de pesquisa, ensino e extensão

08/07/2021

Tabita Said

Vencedor do Oscar 2021 e do Globo de Ouro na categoria de melhor filme, Nomadland retrata um cenário de contradições entre o romantismo da vida na estrada e a dura realidade dos trabalhadores que perderam suas casas na grande recessão de 2008.

Entre as belas paisagens do oeste americano e a sensação de liberdade característica de uma cultura nômade, está Fern (Frances McDormand). Viúva e professora aposentada, ela vê sua cidade, na zona rural de Nevada, se esvaziar após o fechamento de uma fábrica de drywall em meio à crise econômica no mercado de subprimes

“O caso de Empire é muito emblemático do processo de desindustrialização, do declínio e do colapso dos empregos industriais nas pequenas e médias comunidades de trabalhadores dos Estados Unidos”, explica Ruy Braga, professor do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

A personagem é uma síntese de diferentes trabalhadores que aparecem originalmente no livro-reportagem Nomadland: Sobrevivendo aos Estados Unidos no século XXI, da jornalista Jessica Bruder. Publicado em 2017, o livro chegou ao público brasileiro no final de maio.

Por meio de entrevistas, o livro investiga a dissolução dos antigos pactos de trabalho que garantiam alguma proteção social, revelando o fim do sonho americano. A autora acompanhou os caminhos que norte-americanos, em sua maioria mais velhos, percorrem buscando empregos temporários enquanto vivem em trailers e vans.

Nesta edição de Filme com o Especialista, Ruy Braga descreve o processo de precarização e desenraizamento de trabalhadores, em evidência no filme Nomadland (20th Century Studios). Braga é professor do Departamento de Sociologia da FFLCH e coordena o Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic)

O filme Nomadland foi exibido nos cinemas brasileiros em abril e ainda não tem previsão de lançamento nas plataformas de streaming.

Política do precariado

Fundado em 1995 por um grupo de professores e pesquisadores do Departamento de Sociologia da FFLCH, o Cenedic acumula um amplo repertório de pesquisas dedicadas às metamorfoses das classes sociais brasileiras, da dinâmica da acumulação de capital e dos conflitos políticos.

O grupo trabalha por projetos cujos temas priorizam as consequências das mudanças sociais para os trabalhadores. “É o caso do projeto atual, que é uma análise sobre os deslocamentos das classes sociais brasileiras ao longo dos anos 2010, com especial ênfase nos setores populares”, conta Braga.

Um dos fenômenos pesquisados pelo sociólogo é o da precarização do proletariado. Tema de dois de seus livros, o autor analisa as dimensões econômicas e subjetivas do processo de mercantilização do trabalho.

Saiba mais sobre o Cenedic: https://cenedic.fflch.usp.br