Foto: Projeto Pontes/FMRP

Projeto da USP ajuda pessoas em situação de rua a enfrentar pandemia
em Ribeirão Preto

Voluntários do Projeto Pontes oferecem atendimento médico e odontológico e distribuem insumos de higiene para pessoas vulneráveis da cidade

23/03/2021

Giovanna Grepi

Como seria estar em situação de rua em uma das maiores crises sanitárias da história? Não ter casa para fazer isolamento social e não ter recursos para manter a higiene são exemplos de dificuldades enfrentadas por essa população desde o início da pandemia de covid-19. De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mais de 220 mil brasileiros viviam nas ruas em março de 2020, e com a crise econômica acentuada pela pandemia, o estudo prevê que o número de pessoas nessas condições deve crescer.

Alunos, professores e profissionais da USP em Ribeirão Preto uniram empatia e solidariedade para reformular as ações de extensão universitária do Projeto Pontes, que desenvolve atividades para promover a dignidade de pessoas em situação de rua, durante a crise de covid-19. O projeto de extensão é coordenado pela professora Regina Célia Fiorati e conta com a participação de 18 alunos da graduação, dois residentes e dois médicos, todos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Também participam as professoras Luana Pinho de Mesquita Lago e Soraya Fernandes Mestriner e quatro alunos, todos da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da USP.

“Antes da doença, nosso grupo se organizava com iniciativas de caráter assistencial à saúde, mas suspendemos as atividades para garantir a segurança dos membros do projeto e das pessoas em situação de rua da cidade”, conta Giovanna Marina Fernandes Marini, que é aluna da FMRP além de coordenadora do grupo de trabalho do projeto.

Os participantes passaram a desenvolver ações voltadas para a educação e promoção de saúde, atingindo cerca de 1.600 pessoas em situação de rua ou em comunidades vulneráveis. Além da distribuição de mais de 1,2 mil kits de higiene com álcool em gel, sabonete líquido, pano multiuso e absorvente, eles também doaram 2.523 sacos com sabão em barra, 5.201 máscaras de tecido ou TNT, 86 kits de garrafas com água e sabão, 90 preservativos, 36 lubrificantes, 300 cobertores e 500 escovas de dente e cremes dentais.

“Durante a pandemia, nós tivemos cinco cenários de atuação em Ribeirão Preto, que são: Praça da Catedral, Praça Schimidt, Comunidade Vida Nova, Comunidade Mangueira, Comunidade da Paz e Abrigo Emergencial na Cava do Bosque. Também atuamos como parceiros do Projeto de Extensão Veredas, que leva atendimento médico e informação sobre saúde para populações vulneráveis, em ações mais pontuais na Comunidade Locomotiva”, afirma.

Ouça no player abaixo entrevista dos coordenadores do projeto para o Jornal da USP no Ar, Edição Regional.

Regina Célia Fiorati - Foto: Reprodução/Researchgate

Regina Célia Fiorati, professora da FMRP e coordenadora do Projeto Pontes - Foto: Reprodução/Researchgate

Giovanna Marini, aluna da FMRP que atua no Projeto Pontes - Foto: Reprodução/Facebook

Giovanna Marini, aluna da FMRP que atua no Projeto Pontes - Foto: Reprodução/Facebook

Parte da equipe e produtos arrecadados para o projeto - Foto: Projeto Pontes

Campanhas informativas e de arrecadação

Entre as ações realizadas em 2020 está a parceria com o Centro Acadêmico Rocha Lima (CARL) da FMRP para a produção de materiais informativos sobre os cuidados necessários para o enfrentamento da covid-19.

O grupo distribuiu, por toda a cidade, 194 cartazes e 300 adesivos educativos sobre a forma correta de lavagem das mãos e uso de máscara, distanciamento social, sintomas, cuidados na preparação de alimentos e importância do isolamento. Para as pessoas em situação de rua, a produção foi de uma cartilha informativa distribuída nos cenários de atuação.

O ano também foi marcado por campanhas com o objetivo de arrecadação de mochilas, cobertores e roupas para o público-alvo do projeto. “Fizemos também duas edições da Pizza Solidária em parceria com o Projeto Ribeirão Solidária. O objetivo era arrecadar verba para compra de cobertores e ficamos muito felizes com o resultado”, revela Giovanna.

Além disso, os voluntários participaram de diversas atividades educativas para aprender ainda mais sobre o cuidado com pessoas em situação de rua. Eles estudaram e assistiram palestras, promovidas pelo próprio grupo, sobre proteção individual na pandemia, cuidado específico com a população em situação de rua e atuação política nacional do Consultório na Rua.

Campanhas de arrecadação divulgadas nas redes sociais do Projeto Pontes - Foto: Projeto Pontes

Articulação intersetorial

Além das iniciativas desde o início da pandemia, o Projeto Pontes busca abrir espaço para o diálogo com diferentes setores, como a Secretaria de Saúde e Assistência Social, serviços de acolhimento, Terceiro Setor e outros projetos. “A ação de articulação intersetorial tem o objetivo de garantir a execução de políticas públicas e o acesso e proteção dos direitos das pessoas em situação de rua”, comenta.

No início da pandemia, por exemplo, o grupo trabalhou conjuntamente à Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para o estabelecimento de um fluxo específico para a população em situação de rua da cidade que estivesse suspeita ou confirmada de infecção pelo coronavírus.

Além disso, fizeram a identificação das barreiras encontradas pelas pessoas em situação de rua para retirada do auxílio emergencial, como necessidade de um RG e número de telefone celular. “Disponibilizamos para os voluntários um documento fácil que sintetizou as principais orientações para aquisição do auxílio emergencial passadas pela Defensoria Pública. Assim, eles puderam orientar o público-alvo do nosso projeto”, revela.

Ao longo de 2021, os voluntários do Projeto Pontes continuarão com a iniciativa de educação em saúde, distribuição de kits e materiais de higiene durante todo o ano e atuarão na Praça da Catedral, Praça Schimidt, área do Galpão e Comunidade Vida Nova. “Pretendemos voltar às ações com o Doutor Móvel na Catedral uma vez por mês a partir do segundo semestre. Nesta iniciativa, contaremos com alunos de Medicina, Odontologia e Terapia Ocupacional para atendimento da população em situação de rua ”, conta Giovanna.

Ações de atendimento antes da pandemia - Foto: Projeto Pontes

Projeto Pontes

O Projeto Pontes de extensão universitária, criado em 2017, é realizado por estudantes, funcionários e professores da USP em Ribeirão Preto, além de médicos, terapeutas ocupacionais, dentistas, psicólogos, enfermeiros, advogados e outros profissionais. Com a metodologia do Consultório na Rua, o grupo organiza ações de atendimento e educação em saúde voltadas para pessoas em situação de rua.

O Consultório na Rua, estratégia instituída pela Política Nacional de Atenção Básica em 2011, são equipes multiprofissionais que desenvolvem ações integrais de saúde frente às necessidades da população em situação de rua. As atividades são realizadas de forma itinerante e podem envolver parceria com as equipes das Unidades Básicas de Saúde quando necessário. “Nós oferecemos atendimento médico e odontológico, encaminhamos para serviços especializados, promovemos rodas de conversa com acompanhamento e discussão dos casos e distribuímos insumos de higiene”, conta Giovanna.

Os pilares de atuação ainda estão pautados na formação dos voluntários com realização de rodas de conversas e eventos. No ano passado, também colaboraram com o projeto “Pesquisa social comparada de mensuração da reação populacional de covid-19 e às medidas governamentais de contenção e resposta à pandemia” da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP e a Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa.

Fotos: Divulgação / Projeto Pontes

O projeto é apoiado pelo Programa Aprender na Comunidade da Pró-Reitoria de Graduação da USP. Entre os parceiros do Projeto Pontes estão a OSC Reação, que distribui marmitas em comunidades vulneráveis de Ribeirão Preto; Coletivo Acalma de Redução de Danos, que atua na transformação da relação do usuário com a substância psicoativa; Liga de Gênero e Sexualidade da FMRP, que atua com profissionais do sexo; e Projeto Veredas, que leva atendimento médico e informação sobre saúde para populações mais necessitadas e vulneráveis.

 

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