A percepção de que as universidades não conversam com a sociedade nem com a indústria não passa de um “mito”, segundo o pesquisador Marcos Buckeridge, do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP). “A universidade não é uma torre de marfim”, diz. “A universidade está presente o tempo inteiro, em tudo o que voce faz.”
O problema, observa ele, é que essa presença nem sempre é óbvia, e as pessoas frequentemente têm preguiça de buscar informações e pensar um pouco mais sobre as coisas. Para piorar a situação, tem as chamadas fake news, cada vez mais abundantes e acessíveis nas redes sociais, oferecendo versões simplificadas e deturpadas da realidade. “Hoje cada pessoa tem a sua verdade”, lamenta Buckeridge. “As pessoas não querem pensar, elas querem a notícia pronta.”
Professor titular e atual diretor do IB, Buckeridge foi o convidado desta quarta-feira (23 de setembro) do programa Você e o Pesquisador, uma série quinzenal de lives, organizada pela Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, para falar sobre a importância da ciência e as contribuições que a pesquisa científica feita nas universidades trazem para a sociedade. O programa está vinculado à exposição virtual Você e a USP: A Universidade de São Paulo, sempre presente em sua vida, que traz vários exemplos dessa interação.
Buckeridge falou sobre os diversos produtos e conhecimentos gerados ao longo de sua carreira de pesquisador, começando por enzimas para o tratamento de calças jeans, passando pelo desenvolvimento de cosméticos baseados na biodiversidade brasileira, melhoramento genético da cana-de-açúcar, estudos pioneiros sobre a resposta de florestas e culturas agrícolas ao aquecimento global, arborização urbana e desenvolvimento sustentável. “A universidade está em todos os lugares; a verdade da universidade está em tudo que você fizer, na comida que você come, na roupa que você veste, no ar que você respira”, reforçou ele.
Buckeridge criticou a postura do governo federal frente aos incêndios no Pantanal e ressaltou que “a gente só sabe o que está sendo perdido porque alguém foi lá e fez pesquisa”. E disse que o negacionismo climático praticado pelos governos do Brasil e dos Estados Unidos é “ridículo”.
Pesquisador do Instituto de Botânica por 20 anos, antes de se transferir para a USP, Buckeridge defendeu ainda a fusão dos institutos de pesquisa do Estado de São Paulo, prevista no Projeto de Lei 529, argumentando que eles foram “abandonados pelo governo” e “perderam a visão da sociedade”, apesar de produzirem ciência de boa qualidade. Ele é autor de uma proposta para a criação da Agência de Pesquisa e Inovação em Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Apima), que incorporaria as funções dos três institutos (Geológico, Botânica e Florestal) e trabalharia com foco em mudanças climáticas e bioeconomia. “Na verdade São Paulo já está nessa bioeconomia; nós precisamos dessa ponta de lança”, disse. “E quem pode assumir essa ponta de lança, jogar lá no ataque e fazer os gols? É a Apima, com o suporte das universidades.”
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