Na última quarta-feira (6), Donald Trump foi declarado vencedor das eleições presidenciais nos Estados Unidos, superando a candidata democrata Kamala Harris no Colégio Eleitoral, no voto popular, na Câmara e no Senado. Donald Trump, eleito o 47° presidente dos Estados Unidos da América, volta a assumir o cargo presidencial depois de quatro anos.
Em meio à repercussão das recentes eleições nos Estados Unidos, o professor Pedro Costa Júnior, doutorando do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, comenta que a vitória republicana, que se concretizou com 295 votos no Colégio Eleitoral e uma liderança no voto popular, é vista como um triunfo expressivo. Isso ocorre especialmente por Trump ter conquistado Estados decisivos, como a Pensilvânia, além de maioria na Câmara, no Senado e uma vantagem na Suprema Corte.
Diferenças de 2016
“Ele conseguiu, diferentemente do que fez em 2016, vencer tanto no Colégio Eleitoral como no voto direto, o que confere a ele mais legitimidade e, portanto, mais força para exercer a sua governabilidade”, complementa. Além disso, o sucesso de Trump reflete uma reconfiguração mais ampla da política americana e das preferências dos eleitores. Também diferentemente de 2016, o seu vice-presidente, J. D. Vance, é um membro da ala mais conservadora do partido, o movimento Maga. “É diferente do Mike Pence, que era um sujeito tradicional do Partido Republicano, que se opôs, por exemplo, quando houve as manifestações e a invasão do Capitólio. O J. D. Vance está à direita do Trump.”
Conforme Costa Júnior, não à toa uma figura muito proeminente nessa campanha, que “possivelmente vai ocupar um cargo central no governo Trump”, Elon Musk, publicou o seguinte no X: “Com essa vitória, Donald Trump tem carta branca para fazer o que os Estados Unidos precisam”. O especialista conclui: “Então, eu acho que esse é o primeiro impacto”.
O que levou a isso?
Apesar de uma série de erros conjunturais do Partido Democrata, que vem desde Biden e até movimentos da família Clinton em 2016, com uma candidatura equivocada e que trouxe prejuízos, outros fatores entram na questão. Essa reviravolta na política americana, de acordo com Costa Júnior, é parte de uma mudança estrutural na economia política dos EUA, que já se delineava desde a década de 1980, sob a administração de Ronald Reagan, e continuou com governos subsequentes. Segundo o doutorando, os democratas continuaram essa reestruturação liberal conservadora, com Biden sendo o único que tentou reverter isso, mas não de uma maneira satisfatória. A chamada “nova direita” surge em um contexto de distanciamento do Partido Democrata de sua base trabalhadora, que se sentiu marginalizada e encontrou ressonância na retórica populista de Trump.
“Junto a esse ponto, outro fator é o próprio desgaste das democracias ocidentais. Tudo isso abre espaço para uma saída, como é a saída apresentada por Trump, não mais conservadora, como foi nos anos 1980, que era uma resposta à crise dos anos 1970, mas agora é uma contrarrevolução liberal extremista. A crise da democracia representativa e essa reestruturação capitalista dos anos 1980 nos ajudou a explicar este momento”, afirma.
Além disso, o professor aponta para a proliferação dos meios de comunicação de massa pela internet, juntamente com a questão da manipulação dos algoritmos, como outros fatores. “Movimentos ligados à proliferação da internet sem qualquer tipo de regulação e sem controle, com a manipulação dos algoritmos, também trabalham na corrosão do próprio ordenamento democrático, porque eles se aliam, se alimentam e retroalimentam do discurso e da descredibilidade de todas as instituições. E entre essas instituições está, por exemplo, a imprensa, que acaba sendo descredibilizada o tempo todo, além dos institutos de opinião”, informa.
“A crise é muito mais profunda, grave e estrutural, não se trata apenas de uma vitória eleitoral. É uma vitória contundente, que domina todos os poderes norte-americanos e que já até houve em outros momentos, mas não diante de um governo tão extremista. Vamos precisar criar mecanismos de defesa com relação a tudo isso”, finaliza Costa Júnior.
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