Uso de cinta compressiva em cirurgias plásticas pode trazer riscos de embolia pulmonar

Pedro Coltro opina: “Eu acho que o cirurgião deve pesar riscos, benefícios e individualizar o uso da cinta no pós-operatório”

 09/11/2023 - Publicado há 6 meses
O aumento da pressão abdominal atrapalha o retorno do sangue venoso – Foto: Fotomontagem / Repeodução Facebook
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Um artigo escrito por médicos brasileiros e publicado em uma revista especializada da Universidade de Oxford apontou que a cinta compressiva de uso pós-operatório apresenta riscos para a função respiratória humana — especialmente em cirurgias plásticas. O estudo indica que o acessório tem potencial de redução do fluxo sanguíneo na veia femoral, podendo causar trombose no indivíduo.

O médico e professor Pedro Coltro, do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (RP) da Universidade de São Paulo e da Divisão de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas de RP, comenta que o estudo foi muito bem desenhado e possui uma base robusta de evidências científicas.

O artigo

O especialista afirma que o uso da cinta compressiva tem sido repensado ao longo dos últimos anos, visto que artigos científicos sobre o acessório estão sendo publicados de forma recorrente. “Nos últimos dez anos, na literatura médica, é possível achar referências que questionam os reais benefícios das cintas e as colocam como potenciais geradoras de complicações”, mas ele observa que os estudos não são perfeitos.

Pedro Soler Coltro – Foto: FMRP

“Quando o cirurgião indica a cinta no pós-operatório, ele imagina que vai estar trazendo o benefício de conter, ou reduzir, o inchaço, que em cirurgias desse tipo são muito comuns.” Coltro explica que, como consequência da cirurgia — abdominoplastia ou lipoaspiração, por exemplo —, ocorre o descolamento de tecidos que ocasionam dores e comprometimento estético ao indivíduo.

Os estudos, segundo o médico, lidam especificamente com as cintas colocadas na região abdominal, pois, quando apertadas demasiadamente, apresentam efeitos deletérios. Ele cita a redução do fluxo sanguíneo das veias da perna, o aumento da pressão intra-abdominal e a redução da capacidade respiratória.

Coltro esclarece que a cinta é regulada, isto é, existem diversas compressões e, nesse cenário, falta conhecimento para relacionar a intensidade da compressão às complicações. Na compra do instrumento, o tamanho é escolhido de acordo com o biotipo do paciente, mas o cirurgião é fundamental na escolha, pois ele define aquela que vai tentar mitigar, minimamente, os efeitos.

Testes científicos e resultados

Para realização do artigo, o médico explica que foram divididos dois grupos, com ou sem cinta, que foram submetidos à cirurgia de abdominoplastia. A partir disso, eles fizeram testes respiratórios pré e pós-operatórios e, como resultado, observaram que o grupo que utilizava o acessório adquiriu restrição da capacidade de inspirar e expirar. 

“Os autores inferem que essa restrição pode aumentar o risco de complicações pulmonares pós-operatórias, e o principal risco é adquirir trombose e embolia.” O especialista relata que isso ocorre porque a cinta, por comprimir o abdômen, transfere a pressão para a cavidade abdominal.

O aumento da pressão abdominal, conforme o professor, atrapalha o retorno do sangue venoso, vindo das pernas, ao coração e isso é um fator que predispõe o aparecimento de trombose. Como consequência, esse coágulo das pernas pode se deslocar até o coração e depois ao pulmão, o que acarreta em seu entupimento — conhecido como embolia pulmonar.

Casos como esse não são raros de acontecer e, quando graves, impedem o indivíduo de respirar. Nesta semana, uma influenciadora faleceu após adquirir embolia pulmonar maciça, decorrente de uma cirurgia de lipoaspiração.

Síntese

Coltro diz que os médicos devem estar sempre ativos a atualizações científicas, visto que a medicina avança e os profissionais devem acompanhar esses avanços, para que ofereçam os tratamentos mais seguros e modernos aos pacientes. 

Segundo o especialista, a cinta não está totalmente condenada, contudo, muitos estudos apontam questionamentos que devem ser analisados pelos cirurgiões. “Quando você tem uma paciente que tem mais risco de surgimento de trombose, deve pensar se a cinta vai ser indicada ou não. Caso o médico decida por indicar, deve fazer a seleção por cintas de compressão mais suaves, para que potenciais riscos sejam reduzidos”, finaliza Pedro Coltro.


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