Trump, Musk e outras bizarrices

A “amigocracia” guindará a altos cargos e funções nomes antivacina, belicistas ansiosos por uma guerra permanente e outras excentricidades, diz Marília Fiorillo

 Publicado: 15/11/2024 às 10:50     Atualizado: 19/11/2024 às 10:55

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O novo presidente dos EUA já havia anunciado que escolheria seu staff à base da “amigocracia” (uma variedade da meritocracia, na qual o mérito se resume a adular o chefe). Dito e feito: no momento em que gravamos este podcast, quinta-feira (14), foi confirmada a nomeação de Elon Musk para liderar um novo departamento, o Departamento de Eficiência Governamental. Musk vem para se esmerar naquilo que o tornou célebre: passar por cima da lei, demitir gente, espalhar a balbúrdia e fazer muita, muita grana. Não se sabe ao certo como Musk dará seu toque de Midas aos negócios públicos e privados da nova gestão estadunidense, mas Trump sugeriu que Musk se encarregará do Projeto Manhattan do nosso tempo, ressuscitará aquele empenho (da II Guerra) de desenvolver, secretamente, armas nucleares.

A “amigocracia” guindará a altos cargos e funções nomes antivacina, belicistas ansiosos por uma guerra permanente e outras excentricidades. Só dois exemplos: para o estratégico cargo de Secretário da Defesa, escolheu um apresentador da Fox News, Pete Hegseth. E seu genro, Jared Kushner, terá passe livre para implementar um rentável projeto imobiliário: vender, na planta, lotes luxuosos na costa da Faixa de Gaza (hoje em ruínas)  removendo os palestinos remanescentes  e os transferindo para uma área do deserto de Negev , como noticiou The Guardian (link: Jared Kushner says Gaza’s ‘waterfront property could be very valuable’ The Guardian).

Grotesco? Não mais que a promessa de campanha de deportar uma média de mil imigrantes ao dia, feito um tanto lunático.

Esdrúxulo? Estrambótico? Trumpices à parte, o mais grave é que os republicanos, embora divididos, terão a maioria no Congresso e uma Suprema Corte  camarada.

Donald certamente não leu o curto capitulo 23 de Maquiavel, “De como se evitam os aduladores”. Cercar-se de subservientes é um desastre certo para o Príncipe. Era, quando havia política.

Mas Maquiavel tratava da arte de governar. Algo que, como as democracias, está moribundo. Será que o Aprendiz _ que atiçou a invasão do Capitólio e cujos maiores predicados eleitorais são mentir, xingar e cometer crimes_ terá a honra de bater o último prego no caixão da pobre polis?


Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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