Queda na taxa de desemprego deve ser interpretada ao lado de outros dados

Na opinião de Hélio Zylberstajn, existe uma taxa de desemprego disfarçada, na medida em que sua queda deve-se muito mais à redução da procura por emprego do que por uma quantidade maior de empregados

 10/11/2023 - Publicado há 6 meses
Há uma quantidade de trabalhadores que antes estavam procurando emprego e, agora, não estão procurando emprego nem ocupados – Foto: Edson Lopes Jr/A2AD via Fotos Públicas
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A taxa de desemprego medida em setembro deste ano atingiu 7,7%, o patamar mais baixo registrado desde o terceiro trimestre de 2015, de acordo com o recente levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em números absolutos, a queda foi de 1,1 milhão em comparação ao mês de setembro de 2022. 

Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, explica que esse dado pode revelar um desemprego disfarçado e deve ser interpretado juntamente a outros fatores, como o crescimento da população trabalhando e procurando emprego. “Quando a gente começa a analisar melhor os dados, a gente percebe algumas coisas que não tendem a confirmar esse primeiro olhar”, ressalta Zylberstajn. 

Taxa de desemprego

A primeira comparação que deve ser notada é o aumento de 1,5 milhão de pessoas que chegaram na idade de trabalhar, enquanto a taxa de ocupados cresceu apenas em 860 mil. Assim, já se nota uma certa defasagem brasileira, uma vez que o potencial trabalhador cresceu mais do que a demografia dos empregados. Além disso, a taxa de desocupados, isto é, aqueles que estão à procura de um emprego, diminuiu 1,1 milhão. 

Hélio Zylberstajn – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Na comparação, Zylberstajn pontua que a taxa de desocupação deveria ter reduzido na mesma proporção que cresceu a de ocupados: 860 mil. “Os empregados cresceram e os desocupados deveriam diminuir mais ou menos na mesma quantidade, mas diminuíram muito mais do que os ocupados cresceram. Há uma quantidade de trabalhadores que antes estavam procurando emprego e, agora, não estão nem procurando emprego nem ocupados”, explica. 

Dessa forma, o professor afirma que existe uma taxa de desemprego disfarçada, na medida em que sua queda deve-se muito mais à redução da procura por emprego do que por uma quantidade maior de empregados. 

Hipóteses 

A primeira hipótese, do aumento da taxa de desocupação, relaciona os baixos salários e rendimentos no trabalho com a queda na procura de um emprego. No entanto, o especialista faz ressalvas, visto que o rendimento médio do brasileiro apresentou um aumento, já descontada a inflação de 4,2%. 

A explicação de Zylberstajn para o cenário diz sobre um possível efeito do “programa maciço” de transferência de renda que o País tem adotado. “Há um desincentivo na busca por trabalho e, neste momento, é alvo de muitas críticas porque o programa foi perdendo muito daquele foco que chegou a ter no passado”, considera o professor. 

Relativos avanços

Aspectos como o crescimento de trabalhos com carteira assinada em 3%, em especial no setor público (crescimento de 5,3%) e a diminuição ou estagnação dos índices de contratação informal são avaliados pelo especialista como pontos positivos. Ele ainda explica que o aumento do rendimento real em 5% da massa salarial mencionada se relaciona diretamente com o consumo que, por sua vez, representa dois terços do PIB. 

Além disso, apesar das projeções do governo para criar 2 milhões de vagas de emprego, Zylberstajn considera que esse número permaneça em torno de 1,6 milhão de oportunidades.


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