Propostas exageradas e sem explicação tiveram impacto no resultado das eleições argentinas

Na opinião de Rafael Villa, a vantagem de Sergio Massa no primeiro turno das eleições na Argentina é consequência de polêmicas envolvendo o candidato da extrema-direita, Javier Milei

 23/10/2023 - Publicado há 7 meses
Os resultados das primárias realizadas em 13 de outubro construíram cenários possíveis para a tendência de crescimento do atual ministro da Economia – Foto: Reprodução/Juanedc via Flickr

 

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As eleições presidenciais argentinas determinaram um segundo turno após o resultado de domingo (22). Com certa surpresa, o candidato peronista e atual ministro da Economia, Sergio Massa, ficou em primeiro lugar, com 36,68% dos votos, seguido de Javier Milei, com 29,98%, e Patricia Bullrich, com 23,83%. O próximo turno, que decidirá o futuro presidente do país, acontecerá no dia 19 de novembro. 

Rafael Villa, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo (USP), comenta que, apesar do resultado surpreendente após a vitória de Milei nas primárias, deve-se lembrar que a vantagem porcentual não era tão significativa. “Há uma certa surpresa, mas eu ressalvo que não há tanta surpresa assim, porque a diferença nas primárias era de menos de um ponto. Então, já evidenciava uma certa recuperação do candidato Sergio Massa”, analisa Villa. 

Resultados 

Rafael Antonio Duarte Villa- Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

A diferença de mais de cinco pontos porcentuais entre Massa e o segundo colocado de extrema-direita pode ser considerada motivo de surpresa, além da vantagem em relação aos demais concorrentes. Por outro lado, o professor destaca que os resultados das primárias realizadas em 13 de outubro construíram cenários possíveis para a tendência de crescimento do atual ministro da Economia. 

“Nós podemos definir essa performance eleitoral de Milei com a frase do feitiço que virou contra o feiticeiro”, compara Rafael Villa acerca das polêmicas do segundo colocado. Assim, propostas exageradas e sem explicação – como a dolarização da economia e o abandono do peso argentino, corte de gastos para subsídios sociais em 15% e a saída do Mercosul – tiveram grande impacto nos resultados do primeiro turno. O professor ainda afirma que o fato de cerca de 40% da população viver na linha da pobreza prejudicou a campanha de Javier Milei, na medida em que não soube explicar as propostas que provocaram insegurança na população. 

Segundo turno 

A migração dos votos dos setores da direita tradicional da terceira colocada, Patricia Bullrich, desempenha um papel central no segundo turno das eleições. “Embora, em princípio, possa-se dizer que muitos desses pontos tenderão para Milei, porque se trata de setores ideológica e politicamente mais próximos, atualmente existe um mosaico de setores os quais concordam com propostas radicais”, destaca Villa. 

Dessa forma, o eleitorado de Patricia pode se fragmentar entre tais proximidades de setores; porém, outra parcela de “votos racionais” que se preocuparam com propostas radicais podem seguir Massa. Além disso, o eleitorado de Buenos Aires, que concentra cerca de 40% do total argentino e é predominantemente pró-Massa, também ocupa um papel-chave no segundo turno.


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