O que o solo da Antártida tem para nos contar?

Professor da Esalq participou do Programa Antártico Brasileiro desenvolvendo pesquisas relacionadas ao estudo dos solos e de como eles são formados naquele continente

 26/10/2023 - Publicado há 6 meses
Antártida – Foto: Cedida pelo pesquisador

 

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O Programa Antártico Brasileiro (Proantar), um projeto que tem como objetivo a promoção de pesquisas científicas na região Antártica, contou este anos com a participação de José Alexandre Melo Demattê, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP. O docente esteve no continente por 40 dias desenvolvendo pesquisas relacionadas ao estudo dos solos e de como eles são formados naquele continente.  Os estudos abrangem solos, geologia, planta, bactérias, fungos e vírus, além das questões climática e oceanográfica, de acordo com Demattê.

O Proantar existe há mais de 40 anos e é um programa institucional, financiado pelo Governo Federal, que mantém uma estação permanente na Antártida. Em 1940, com a repartição da região, alguns países receberam partes do território, mas ela ficou restrita apenas para pesquisas científicas. 

A pesquisa 

Dentro da USP, foram desenvolvidas inúmeras tecnologias via satélite para serem utilizadas na parte agrícola e ambiental. Os equipamentos usados são satélites, drones e sensores, que estudam o solo e a agricultura no Brasil e no mundo. “Então, a ideia foi ir para o continente Antártico e tentar aplicar essas tecnologias para poder conseguir estudar com maior detalhamento esse local” explica o professor. 

Na maioria do tempo, os pesquisadores precisavam ficar confinados nas bases. No dia permitido, programado pela Marinha e pela Aeronáutica, os estudiosos tinham permissão para ir a campo para realizar coletas do material desejado – no caso de Demattê, ele coletava pedaços de rocha e fazia buracos no chão para recolher amostras e observar o tipo de solo. Esse material coletado já está no Brasil e será estudado no laboratório. 

Além disso, depois da expedição, o pesquisador pegou as imagens de satélite que registraram o trajeto para analisar os locais em que tinham percorrido e tentar mapear toda a península, através do auxílio da inteligência artificial. A ideia é que as imagens, depois de prontas, sejam utilizadas por qualquer grupo de pesquisa.

Tipo de solos da região 

José Alexandre Melo Demattê – Foto: Arquivo pessoal

Demattê explica que o tipo de solo mais comum da região é composto por material rochoso, mas também existem solos classificados como jovens. Além desses tipos, também são comuns na Antártida os permafrost – superfícies que permaneceram, por pelo menos dois anos, com temperaturas abaixo de 2° celsius. Esse solo contém uma camada de gelo, que pode estar acompanhada de sedimentos, material orgânico ou rochas.  Esse material congelado armazena dióxido de carbono (CO2), substância prejudicial para a atmosfera.

Na região antártica, existem trabalhos que monitoram o degelo dessas superfícies, já que a liberação de CO2 pode alterar a qualidade atmosférica. Alguns estudos, segundo o professor, já acusaram emissão de carbono. “Isso acontece por vários motivos. Ou pelo próprio envelhecimento natural da Terra, ou por aquela velha regra: você pode querer envelhecer mais rapidamente ou lentamente, dependendo de como você cuida do planeta”, comenta. O professor aponta que o degelo dos permafrost tem ligação com o aquecimento global e os desmatamentos. “Você tira a mata, que retinha o carbono, e o composto volta para a atmosfera. A exposição do solo depois do desmatamento também libera CO2, já que essa superfície tem carbono”. Dessa forma, a atmosfera esquenta e pode descongelar os solos.

 


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