Eu costumo considerar que, nas discussões ambientais, não somente o ambiente físico ou biológico importam, mas também o ambiente social e cultural. E, nesse cenário, a violência é um componente ambiental que interfere com a saúde da nossa mente, com a nossa forma de enxergar a vida, e também nos impede de usufruir com liberdade, por exemplo, as ruas de uma cidade.
Tomei essa iniciativa de falar sobre violência, já tinha falado sobre violência no trânsito, e vou falar sobre a criminalidade.
É movido pela tristeza da morte do Marcos, do Perseu e Diego, três médicos que trabalhavam no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no seu Instituto de Ortopedia. O Marcos foi meu aluno, era o responsável por cirurgia de pé, o Perseu e o Diego foram residentes no hospital e estavam reunidos no Rio de Janeiro para um congresso da especialidade.
É movido pela tristeza da morte do Marcos, do Perseu e Diego, três médicos que trabalhavam no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no seu Instituto de Ortopedia. O Marcos foi meu aluno, era o responsável por cirurgia de pé, o Perseu e o Diego foram residentes no hospital e estavam reunidos no Rio de Janeiro para um congresso da especialidade.
Eles foram chacinados, uma chacina que pôde ser vista pelas câmeras de segurança. Morreram sem saber o porquê. Morreram porque existe um estado paralelo que domina o ambiente urbano, as periferias da cidade, domina os campos, que são criminosos do crime organizado e as milícias, outra forma de crime organizado que constrói então um país que tem regras próprias, que tem códigos próprios e que tem uma forma de ser muito organizada e ao mesmo tempo corrompe o Estado de Direito.
O Marcos era meu amigo e um excelente médico. Está morto. Se dá para ter algum sentido da morte do Marcos, do Perseu e do Diego, é que eles, por serem médicos, por terem uma posição que pertence à Universidade e ao ensino, eles foram visíveis. Eles causaram indignação, a morte deles nos promove o horror. E eles espelham, numa forma então capaz de ser identificada, eles falam em nome das mortes invisíveis que ocorrem motivadas tanto pela milícia quanto pelo crime organizado em pessoas que têm mortes silenciosas, invisíveis, às quais ficamos todos indiferentes.
Quando um país chega a uma situação aonde grupos criminosos determinam o assassinato das pessoas nas ruas, num espaço público, e aparentemente com um despudor, com uma impiedade marcante, nós ficamos preocupados com o futuro da gestão das nossas cidades. Quanto do nosso governo, quanto das nossas autoridades estão contaminadas ou dialogam com esses grupos? Essa é a pergunta que fica para hoje, o número de pessoas assassinadas no Brasil é absolutamente acima dos níveis civilizatórios desejados. Vão com Deus Marcos, Perseu e Diego, e paz para todos nós, para nossas famílias e para todo o povo brasileiro.
Saúde e Meio Ambiente
A coluna Saúde e Meio Ambiente, com o professor Paulo Saldiva, vai ao ar toda segunda-feira às 8h, quinzenalmente, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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