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Mobilidade social restrita no Brasil reflete raízes da herança histórica nacional
“Nosso passado colonial excluiu grandes fatias da população”, aponta o professor Jorge Machado
A redistribuição dos recursos arrecadados pelo governo contribuiria para melhorar a situação Foto: Ana Beatriz Côrtes – Flickr
Segundo recente estudo realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o brasileiro pobre precisaria viver nove gerações para chegar à classe média. A pesquisa revelou que a mobilidade social no Brasil é uma das mais restritas do mundo, destacando-se o fato de que o País é um dos mais desiguais entre as 38 nações que participam da organização.
Jorge Machado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes, Ciência e Humanidades (EACH) da USP, analisa que a mobilidade social no País apresenta-se de forma restrita em decorrência da herança histórica nacional. “Nosso passado colonial excluiu grandes fatias da população”, comenta.
Questões profundas
O especialista explica que, em uma sociedade ideal, a mobilidade seria aquela em que todas as pessoas teriam as mesmas condições para desenvolver suas habilidades, aspirações e maior facilidade de enriquecimento. Atualmente, o Brasil encontra-se distante desse cenário, mas seria possível observar um avanço com o aumento de políticas públicas a partir da melhora do gasto estatal, por exemplo, com recursos como educação básica, segurança pública, saúde e ensino profissional.
O estudo da OCDE também indica que a redistribuição dos recursos arrecadados pelo governo contribuiria para melhorar a situação. Machado indica que essa recomendação aponta para questões enraizadas no País, como a possibilidade de uma Reforma Tributária. “O rico no Brasil paga menos impostos em termos proporcionais, isso já é conhecido e há uma dificuldade de aumentar os tributos, já que ninguém gosta de pagá-los”, destaca o professor.
Existem ainda outras questões referentes ao cenário nacional, como o fato de cerca de 40% dos municípios não apresentarem rede de saneamento básico — como indica estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo Machado, esses são dilemas que envolvem muito investimento público e que se transformam em problemas também de saúde que afetam diretamente a qualidade de vida populacional.
Apesar das dificuldades, é possível observar que, no Brasil, há um avanço com algumas políticas de renda mínima — o Programa Bolsa Família, por exemplo. O professor destaca que esse e outros programas se refletem positivamente nos indicadores sociais, com medidas de manutenção estudantil e acompanhamento de saúde.
Plano geral
As políticas estatais associadas a esses setores devem, portanto, ser planejadas previamente para todos os governos. Machado destaca ainda que a situação nacional, quando comparada com outros países da América Latina, é extremamente semelhante, mais uma vez, em decorrência da herança histórica compartilhada por essas nações. “Estou falando disso para refletirmos sobre questões do colonialismo […], já que essa não é uma coisa que conseguimos mudar em tão pouco tempo”, afirma.
A concentração de renda é outra questão que entra nesse debate, sendo possível observar que, apesar dos programas de renda mínima serem efetivos nesse sentido, eles não são capazes de resolver o problema de forma exclusiva. “Nós temos que mudar a nossa estrutura social e para isso é necessário termos medidas mais ousadas, que tenham reflexo na qualidade de vida”, discorre o professor.
Por fim, Machado aponta ainda que é importante pensar em desenvolvimento sustentável e na fiscalização do poder público para que medidas governamentais possam ser visualizadas de maneira efetiva.
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