Vacinação infantil apresenta sinais de recuperação mundial após pandemia

Apesar do relativo avanço, especialistas apontam que ainda há um longo caminho a ser percorrido para alcançar níveis satisfatórios

 09/08/2023 - Publicado há 1 ano
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É essencial investimento na atenção primária à saúde e na comunicação para transmitir informações corretas sobre a vacinação – Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

 

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A Organização Mundial da Saúde (OMS), em conjunto com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgou dados acerca da imunização mundial das crianças e adolescentes. De acordo com as informações, há um avanço no nível de vacinação para esse público que indica sinais de recuperação após o retrocesso durante a pandemia do coronavírus. 

No cenário mundial, a vacina contra a DTP (difteria, tétano e coqueluche), conhecida como tríplice bacteriana e utilizada como indicador mundial de cobertura de imunização, por exemplo, apresentou um avanço. Em 2021, 18,1 milhões de crianças não receberam nenhuma dose; em 2022, esse número baixou para 14,3 milhões. Porém, o relatório ainda ressalta que o nível está longe do que foi atingido em 2019, com 12,9 milhões. 

Esse avanço relativo também é observado no contexto brasileiro em que a cobertura da DTP atingiu 280 mil a mais em 2022 do que em 2021. No entanto, Marta Lopes, professora do Departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da USP, aponta que ainda são grandes os esforços para retornar aos índices pré-pandêmicos. 

Causas 

Professor Gonzalo Vecina Neto – Foto: Reprodução/FSP-USP

Na visão da professora, a volta à vida rotineira após a melhora da pandemia e a promoção de iniciativas a favor da vacinação por autoridades governamentais e sociedades científicas são os principais fatores dessa alta nos índices de imunização.

Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, também concorda que a razão desse avanço é a restruturação de um governo democrático e técnico, principalmente, na composição dos Ministérios. “Com isso, os técnicos começaram a fazer o trabalho deles em todas as áreas do Ministério, colocaram mais médicos e vacinas, retomaram a estratégia Saúde da Família, que passou por um processo de reconstrução porque tinha sido totalmente destruída”, comenta o professor. 

Histórico 

Marta e Vecina Neto apontam que o processo de falta de adesão aos imunizantes se iniciou muito antes do período pandêmico com o corte de verbas ao Ministério da Saúde e ao Estado como um todo, em 2016, durante o governo Temer. O professor explica que a Emenda Constitucional 95, mais conhecida como “teto de gastos”, impactou direta e imediatamente a dinâmica vacinal no Brasil, na medida em que o setor de comunicação, responsável por elaborar as campanhas, foi muito afetado com os cortes.

“Nosso modelo de vacinação não é baseado em uma atenção contínua, como acontece nos países mais desenvolvidos através da puericultura. Nosso programa de vacinação é baseado em campanhas”, esclarece o professor. Além disso, Marta ressalta que o isolamento social ocasionado pela pandemia também contribuiu com a intensificação da queda na cobertura vacinal infantil, uma vez que as pessoas não saíam de casa para vacinar seus filhos. 

Estratégias públicas 

Professora Marta Heloísa Lopes – Foto: Reprodução/FM-USP

A professora afirma que o Brasil ainda apresenta inúmeros desafios acerca da imunização infantil e, para enfrentá-las, é essencial o investimento na atenção primária à saúde e na comunicação adequada para a transmissão das informações corretas sobre a vacinação.

“O  campo da comunicação da saúde pública tem sido esquecido e o cidadão tem direito a isso para que ele possa fazer a promoção e proteção da sua própria saúde”, afirma Vecina Neto. 

Assim, as políticas de informatização também podem combater a desconfiança nas vacinas e, sobretudo, na ciência, na visão do professor. Além disso, um dos pontos principais levantados é a importância de um governo democrático que se comprometa com a construção do bem-estar da sociedade.

 

*Estagiária sob orientação de Marcia Avanza


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