O governo do Estado de São Paulo contratou serviço do Banco Mundial para analisar a viabilidade da privatização da Sabesp. Entre especialistas, existem pontos de vista distintos sobre o tema, os quais buscam discutir o melhor caminho para a privatização e esclarecer os seus possíveis modelos.
O professor Pedro Luiz Côrtes, titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, explica que é importante buscar a consultoria, mas, antes de tudo, deve haver transparência sobre quais benefícios se pretende obter com a privatização de um serviço público. “Muitas vezes, a privatização é necessária quando nós temos o Estado atuando em áreas onde não é sua função estratégica, não é sua função básica, ou quando, mesmo sendo uma função estratégica, ele não tem conseguido oferecer um serviço de qualidade”, diz Côrtes.
Segundo o professor, a Sabesp é financeiramente bem administrada, tem ações comercializadas da B3 (a Bolsa de Valores brasileira) e também na Bolsa de Valores de Nova York e tem feito importantes investimentos com recursos próprios. No entanto, sempre há o que melhorar. O ponto principal indicado por Côrtes são as decisões políticas tomadas em relação ao abastecimento da região metropolitana de São Paulo. “Nós temos uma empresa que funciona bem, é tecnicamente competente, é bem administrada sob vários aspectos, mas aqui efetivamente nós temos uma série de problemas, por conta de uma concentração populacional muito significativa e uma carência efetivamente de fontes de abastecimento que consigam dar conta disso.”
Modelo de abastecimento
Por isso, neste momento, é urgente colocar em discussão qual será o modelo de abastecimento utilizado na região metropolitana nas próximas décadas. Apesar de parecer um período longínquo, Côrtes esclarece que “nós precisamos investigar isso, porque o sistema de abastecimento, do jeito que está configurado, não vem mostrando resiliência face às mudanças climáticas, embora a Sabesp esteja fazendo um esforço muito grande no sentido de tentar garantir essa segurança hídrica”. O professor também acredita que o Banco Mundial não colocará em pauta o debate climático que defende.
Para Côrtes, o argumento da geração de novos empregos e melhorias da qualidade do serviço não são os únicos pontos a serem levados em consideração: “Não se trata de ser contra ou a favor, por princípio, em relação à privatização e concessão de serviços públicos. A primeira pergunta que tem que ser feita é: a população vai ganhar exatamente o que com isso?” Ele discorre sobre a necessidade de avaliar os índices de evolução da eficiência da Sabesp: “A gente precisa tomar muito cuidado quando recebe essas informações a respeito do caso específico da Sabesp, para tentar entender como está sendo projetado, como isso está sendo feito”, conclui.
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