Na última sexta-feira (3), parte da cidade de São Paulo ficou sem energia, consequência das fortes chuvas e ventos que derrubaram árvores e danificaram a rede elétrica. Desde então, estabeleceu-se uma discussão entre a Prefeitura do município e a concessionária Enel sobre qual instituição deveria ser responsabilizada pelo acontecimento – principalmente sobre quem deveria realizar a manutenção das árvores, sobre a demora em restabelecer o fornecimento de energia e o ressarcimento dos prejuízos provocados.
Pedro Luiz Côrtes, professor titular da Escola de Comunicações e Artes e do Instituto de Energia e Ambiente, aponta o ineficiente planejamento frente a mudanças climáticas realizado pelos agentes responsáveis pelo fornecimento de energia.
Falta de preparo
Desde o início de 2023, os estudiosos previram o acontecimento de um novo El Niño, fenômeno climático que provoca chuvas na região Sul – podendo atingir a região Sudeste e área metropolitana de São Paulo – e secas no Norte e Nordeste. De acordo com o professor, ainda que esse evento tenha se manifestado dentro das faixas normais, suas consequências têm sido mais intensas do que o usual. “No caso do El Niño, quando chove, chove muito, e quando há seca, ela tende a ser muito pronunciada, como aconteceu agora na Amazônia”, comenta Côrtes.
Então, segundo o professor, a Prefeitura, a Enel, a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tinham dez meses para se preparar para eventos desse tipo. No início da semana passada, antes da tempestade, a previsão meteorológica indicava que, entre sexta-feira e sábado, aconteceriam fortes chuvas e ventos na cidade de São Paulo.
Para Côrtes, as empresas deveriam ter sido colocadas em alerta para fornecer um pronto atendimento à população afetada – o que não foi feito na medida necessária para atender às demandas sociais, ou não foi realizado em nenhuma instância.
Planejamento de rotina
O professor ressalta a importância das previsões climáticas para balizar a tomada de decisão e gestão das empresas. Empresas como a Enel, responsável pelo fornecimento de energia elétrica em 274 cidades, deveriam incorporar – ou incorporar mais fortemente – esse monitoramento climático na gestão operacional.
Côrtes relembra que o País está no início da temporada de chuvas – que são mais intensas no verão, graças ainda ao fenômeno El Niño. Caso as empresas e órgãos públicos não tomem medidas para enfrentar o problema, o que aconteceu em São Paulo serve como um prenúncio do que pode acontecer nos próximos meses.
Segundo o professor, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pode cobrar os índices de qualidade da empresa prestadora de serviços – mesmo que isso não esteja previsto no contrato de concessão –, como o padrão do suprimento de energia e quanto tempo aconteceu a interrupção, por exemplo, para que as empresas sejam forçadas a adotar medidas preventivas face às mudanças climáticas. “E não se trata aqui de sair cortando árvores, e sim uma manutenção adequada, uma análise daquelas que estão doentes, das que precisam de um tratamento ou infelizmente podem demandar um corte”, explica.
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