Em situação de risco, humanidade chega a 8 bilhões

Para Pedro Dallari, 2022 foi um ano extremamente marcante, com acontecimentos cujos efeitos transbordarão para os próximos anos

 14/12/2022 - Publicado há 2 anos

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No balanço que faz deste ano, já em seus últimos dias, o professor Pedro Dallari destaca alguns acontecimentos que, para ele, são marcantes e que devem deixar sequelas, a começar pela guerra na Ucrânia. “A invasão da Ucrânia por tropas russas, em fevereiro, chocou o mundo. Em ação militar desprovida de qualquer respaldo jurídico ou moral, a Rússia agrediu um país soberano, provocando forte resistência da população ucraniana e a reação de grande parte da comunidade internacional. Diante das dificuldades para atingir seus objetivos no campo de batalha, o governo de Vladimir Putin vem ameaçando com a possibilidade do uso de armas nucleares, o que teria consequências inimagináveis para a humanidade.”

Outro fato para o qual ele chama a atenção foi a retomada da expansão do número de casos de covid-19, que “causou grande preocupação, demonstrando a persistência de uma pandemia que entrará em seu quarto ano”. As consequências desse evento não poderiam deixar de se fazer sentir na economia. “A economia mundial entrou em um estado de crise bastante grave; as altas taxas de inflação em países da Europa são exemplo revelador de um quadro desconhecido desde o final da Segunda Guerra Mundial. E o mais assustador é o impacto que a crise está tendo no plano social, com o aumento acentuado da fome e da precarização das condições de vida de grande parte da população mundial.”

Em relação ao cenário político mundial, o colunista registra a ameaça que pesa sobre a democracia, que “voltou a apresentar indicadores de crescente fragilidade. É evidente o recrudescimento da violência empregada por governos autoritários, como no Irã e na China, assim como o fortalecimento eleitoral de partidos de extrema-direita em países democráticos, o que ocorreu na Itália e até mesmo na estável Escandinávia”. Ele observa que o Brasil não escapou desse cenário. “Assim como no resto do mundo, a pandemia de covid-19 ressurgiu no País, que também se arrasta na retomada da atividade econômica, vê a piora dos indicadores sociais, inclusive da fome, e amarga a necessidade de forte resistência para a preservação da democracia. Até mesmo com relação à guerra na Ucrânia, a posição brasileira não foi boa, tendo o governo Bolsonaro e a oposição capitaneada por Lula convergido em um discurso débil, e mesmo leniente, diante do horror decorrente da invasão russa.”

Tudo isso acontece num momento em que a população mundial, ainda em crescimento, depara-se com desigualdades e com a crescente ameaça representada pelas mudanças climáticas. “Se for para indicar uma marca distintiva deste ano de 2022, ela não é surpreendente, pois seu atingimento era totalmente previsível: no último dia 15 de novembro, segundo cálculos da Organização das Nações Unidades, a população do planeta chegou ao fantástico número de 8 bilhões de pessoas. A princípio, esse dado não deveria ser preocupante. Isso porque a taxa de crescimento da população mundial vem decrescendo. E, havendo racionalidade no uso dos recursos naturais do planeta, seria perfeitamente possível que todas essas pessoas tivessem um padrão de vida adequado. O problema é que esse equilíbrio não existe. O conjunto de crises que listei aqui, alarmante por si só, é coroado pela maior de todas, que é a rápida degradação do meio ambiente planetário, sinalizada pelos dados inquietantes indicativos da elevação do aquecimento global.”

A conclusão, portanto, está longe de ser otimista: “Em síntese, pode-se concluir que o ano de 2022 descortinou uma realidade dramática, pois a humanidade, ainda em pleno crescimento numérico, vive uma situação extrema de risco, em que o colapso das condições ambientais ou mesmo uma guerra nuclear poderão levar à própria extinção da espécie humana”.


Globalização e Cidadania
A coluna Globalização e Cidadania, com o professor Pedro Dallari, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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