Estão ocorrendo ameaças crescentes ao jornalismo e isso pode representar riscos à democracia. O professor Carlos Eduardo Lins da Silva destaca que, no Brasil, as eleições de 2022 podem representar um ano perigoso ao jornalismo. “Tudo indica que a campanha eleitoral, principalmente para a Presidência da República, vai atingir níveis de violência de todos os tipos nunca vistos antes na história do Brasil.”
Lins da Silva explica também que isso já pode ser sentido com a agressividade constatada nas redes sociais. Para ele, o jornalismo vive essa crise estrutural por causa do aumento do descrédito da população na profissão. De acordo com a pesquisa do Pew Research Center, o nível de confiança da população americana nos jornalistas, por exemplo, decaiu de 15%, em 2018, para 6% agora.
A coalizão para a liberdade de imprensa, que foi estabelecida pelo Reino Unido e Canadá, é um exemplo de iniciativa, mas não resolve a questão. “É uma dessas iniciativas interessantes, mas que ainda estão começando”, ressalta. Ela foi estabelecida em 2019, mas o Brasil, no início do governo Bolsonaro, não participou. Da América Latina participam Argentina, Chile, Costa Rica, Guiana, Honduras e Uruguai.
O México e a Venezuela, que têm problemas com a liberdade de imprensa, também não fazem parte da coalizão. “Então, os países que participam em geral são aqueles em que há melhor nível de respeito à liberdade de expressão”, pondera o professor. Para se ter uma ideia, o professor chama a atenção para a gravidade da situação com os jornalistas. “Em dezembro do ano passado, havia quase 500 jornalistas presos no mundo, 488 pelo exercício da profissão, e 46 jornalistas foram assassinados quando faziam seu trabalho, o que dá quase um jornalista por semana”, afirma.
E o que a coalizão fez foi apenas emitir notas de protesto contra os governos, que não tomam medidas para proteger os jornalistas. Além desses atos simbólicos, a chamada Caixa de Ferramentas Concretas, que prevê, por exemplo, a oferta de vistos de entrada de emergência para jornalistas que estejam sendo perseguidos, poderia ajudar no enfrentamento dessas situações. O professor afirma que “o jornalista teria a alternativa de se exilar num desses 50 países que se comprometem a protegê-lo. Outra opção é aumentar o nível de suporte consular para jornalistas que estejam em risco”.
Horizontes do Jornalismo
A coluna Horizontes do Jornalismo, com o professor Carlos Eduardo Lins da Silva, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
.