Atendimento público de saúde precisa melhorar a informação de seus serviços à população

“Para ter saúde é necessário informação, não só entender como promover autocuidado, mas também como navegar no sistema do SUS”, esclarece Anne Candal Pinheiro

 24/10/2023 - Publicado há 6 meses
Entender sobre saúde é fundamental para promover o autocuidado – Imagem: Pixabay
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Uma pesquisa analisou dois hospitais públicos do município de São Paulo e identificou uma falha na comunicação com a população. Essa ineficiência é, também, observada em diferentes unidades hospitalares do País, o que impacta diretamente a saúde dos cidadãos. De acordo com o estudo, o Sistema Único de Saúde (SUS), referência mundial na universalização da saúde, enfrenta problemas que podem ser resolvidos sem muitos gastos. Entre eles, o agendamento apenas presencial de consultas e procedimentos clínicos é um dos principais entraves para os usuários. 

A pesquisadora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo Anne Candal Pinheiro, jornalista e autora da pesquisa, discorre a respeito dos motivos e dos objetivos de sua dissertação de mestrado.

Motivação

A jornalista esclarece que o incentivo para a realização de seu estudo foi o fato de, há 15 anos, ter iniciado seu trabalho em um hospital público, com objetivo de montar uma área de comunicação. Com isso, por ela não conhecer sobre a área pública na época, foi buscar informações e se deparou com uma escassez de material a respeito do tema.

A partir da vivência diária, ela passou a questionar práticas que eram realizadas em seu local de trabalho, não só como cidadã, mas especialmente como profissional do assunto. Portanto, após ter de gerenciar crises causadas pela fragilidade na comunicação, a ideia de montar o projeto de estudo surgiu.

Metodologia de estudo

Anne explica que o primeiro passo feito para começar a pesquisa foi uma revisão bibliográfica, com o intuito de se aprofundar na temática da comunicação interna dos órgãos públicos. “A comunicação pública é toda a comunicação de interesse do povo, mas a comunicação pública governamental olha para a transmissão realizada pelos equipamentos estatais, sejam de saúde ou de qualquer outra área”, comenta.

Com base nisso, a pesquisadora iniciou uma auditoria de comunicação e desenvolveu um formulário para levantar informações acerca da forma como a transmissão é pensada e realizada nas instituições hospitalares. Segundo a jornalista, após dialogar com a banca e com o professor orientador, foram escolhidos dois hospitais como objeto de estudo, a fim de ampliar a compreensão da profundidade do panorama e propor reflexões e discussões concretas sobre o tema.

Soluções

Anne inicia sua conclusão afirmando que a comunicação é indispensável no relacionamento dos hospitais públicos com a população, pois entender sobre saúde é fundamental para promover o autocuidado. “É fato que a Constituição de 1988 traz dois direitos que convergem: o direito à saúde e o direito à informação. Para ter saúde, é necessário informação, não só entender como promover autocuidado, mas também como navegar no sistema do SUS”, esclarece.

“Como reflexo dessa má comunicação, observa-se muitas pessoas chegando ao serviço quando a doença já está avançada, às vezes a pessoa está na fila errada ou está indo para um pronto-socorro para tratar uma questão crônica, quando, efetivamente, deveria ir ao especialista”, exemplifica a jornalista, que complementa dizendo que o cidadão é público somente após entender todo o processo.

Anne Candal Pinheiro – Foto: FFLCH

De acordo com Anne, apesar dos equipamentos serem idealizados para uma região, eles informam e se relacionam muito pouco com o indivíduo, uma vez que não existem canais de troca sistematizados e qualificados. Dessa forma, ela afirma que é notável uma comunicação vertical e unilateral e que só existe algum tipo de comunicação quando a pessoa está dentro do hospital, ou seja, é um modelo fechado, que informa pouco e impacta diretamente a saúde do cidadão.

Conforme a jornalista, a principal estratégia utilizada é a ouvidoria, entretanto, ela não é uma comunicação integrada e transparente, portanto, não pode ser a única: “Ela é feita para resolver questões individuais, não para questões de sistema, para educar a população ou para trazer informações mais amplas”.

Além disso, Anne enfatiza o fraco relacionamento com a imprensa, que impacta a opinião pública. Para ela, devem ser concebidas estratégias que construam uma imagem positiva dessas instituições, pois isso aumenta a confiança do povo nesse serviço. Por fim, a pesquisadora afirma que saúde é feita a partir de relacionamentos: “É preciso dar um passo atrás e discutir qual é o objetivo da comunicação realizada dentro dessas instituições. A instituição pensar sobre a comunicação que faz, mas como um direito do cidadão e uma obrigação enquanto entidade pública. Então, deve-se pensar no porquê se faz algo, para, de fato, fazer de forma estratégica”.


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