Guilherme Wisnik dá início à sua primeira coluna do ano lembrando que o Brasil tem uma tradição muito fraca do espaço público, “o quanto o espaço público nas cidades brasileiras está sempre a perigo, sempre muito fragilizado, sempre correndo o risco de ser destruído para a passagem de uma via expressa ou de um viaduto, sempre abandonado ou vandalizado, acumulando lixo […] sendo cercado, fechado, controlado e servindo, infelizmente, de dormitório e de sanitário para as populações de moradores de rua na escassez de possibilidades total em que eles vivem”. Wisnik cita aqui uma frase do crítico literário e professor Roberto Schwar – em uma análise sobre Machado de Assis -, segundo a qual o espaço público no Brasil é uma espécie de ideia fora do lugar.
Se é certo que o Brasil tem essa tradição precária e fraca com o espaço público, também é correto que o País é pleno de outros tipos de espaço público, como a praia urbana, “sobretudo as praias da zona sul do Rio de Janeiro, de Salvador, de tantas grandes cidades que têm na praia o seu lugar de convívio democrático entre diversas classes sociais”. E essa característica, de acordo com o colunista, assume todo o seu vigor durante o Carnaval, “fenômeno de multidão que junta muita gente e, vejam, entre a praia e o Carnaval, um modelo muito distinto e distante daquele da Ágora ateniense da discussão política, mas muito mais próximo do lúdico e da afirmação da liberdade do corpo e também, de certa forma, pensando no Carnaval numa manifestação que é de resistência, ao mesmo tempo de rebelião contra a ordem estabelecida e que traz à tona outros valores”.
A partir dessas considerações, Wisnik cita o livro de Guilherme Varella, Direito à Folia – O Direito ao Carnaval e a Política Pública do Carnaval de Rua na Cidade de São Paulo, “que é um livro que acabou de ser lançado e que traz ideias excelentes, partindo de uma gestão, que foi a gestão Fernando Haddad, na qual Guilherme Varella estava coordenando essa política pública; então, trazendo a experiência daquela gestão e refletindo, de maneira mais ampla, sobre esse papel do Carnaval, eu queria combinar essa reflexão dele a essa ideia mais ampla de um espaço público enviesado no Brasil como sendo, talvez, uma marca distintiva da nossa cultura e das nossas cidades”.
Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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