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A democracia é o regime mais ético que existe, pelo menos em nosso tempo. Em outros tempos, no passado, havia uma discussão importante, que eu posso resumir no seguinte: é melhor ser governado por um bom rei ou por boas leis? Essa discussão já aparece com Aristóteles, é retomada na Idade Média e basicamente opõe duas possibilidades: um governante que seja bom e que faça o seu governo independentemente das leis, procurando os fins melhores para a sociedade, versus um sistema institucionalizado, que tem uma série de órgãos que decidem coisas, como, por exemplo, a gente tem hoje Legislativo e Judiciário.

A nossa sociedade é cheia de instituições e as instituições foram sendo criadas a partir da Idade Média, para evitar o problema do mau governo, o rei que fosse louco ou fosse mau, de maldade, ou mau de ruim, de inconveniente, de perverso. Em função disso é que foi se constituindo uma série de órgãos de justiça, a partir do ano 1200, uma série de órgãos representativos no norte da Itália e mais tarde em outros países como a Inglaterra […] a ideia que foi prevalecendo é que é mais importante ter boas leis, boas instituições, do que bons reis […]

Como disse a ministra Marina Silva […] muitas cabeças pensam melhor do que uma só. Então, a ideia da democracia é que nós tenhamos uma discussão com a construção coletiva de um projeto. Isso é importante também porque a democracia não se pauta pela qualidade maior ou menor do conhecimento, a democracia não é um procedimento científico de conhecer coisas. Na ciência, o número maior de votos em favor de uma posição ou outra é irrisória, não tem a menor importância quanta gente se manifesta sobre a Terra ser redonda ou plana, a gente sabe que é redonda por provas e números. Agora, na hora que nós vamos decidir uma escolha, se nós queremos, por exemplo, construir um parque ou fazer uma estrada, aí é uma decisão propriamente política, e por isso a democracia é importante.

Nas decisões políticas, entre escolhas importantes, é fundamental estarmos informados pela ciência, mas tomar uma decisão conforme o que preferimos. Por exemplo: vamos pegar a hipótese de explorar o petróleo na Foz do Amazonas. Vamos supor que tenhamos condições científicas perfeitas de evitar um acidente. Isso é muito difícil de ter, mas suponhamos que tenhamos. Isso então permitiria colocar as escolhas de explorar ou não explorar no mesmo nível. A sociedade pode decidir explorar o petróleo ou pode achar que não, que vai aumentar o aquecimento global, ou então que vai explorar por alguns anos para, enquanto isso, utilizar esse valor para projetos sociais importantes. Vejam, são muitos fatores que entram nisso e democraticamente é a melhor maneira que a gente tem de escolher o que vai ser feito. Então, é mais ou menos isso, a democracia é o regime mais ético que existe.