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Para o podcast Minuto Saúde Mental desta semana, o professor João Paulo de Sousa conversou com o psiquiatra e pesquisador da USP de Ribeirão Preto Renan Maekawa para responder à pergunta: “O que é e para que serve a cetamina?”.
O psiquiatra responde que a cetamina (ou ketamina) é um anestésico criado na década de 1960 como uma alternativa a outros anestésicos tradicionais por sua capacidade de causar um estado dissociativo, ou seja, de “desligar” a percepção da dor sem necessariamente causar um estado de anestesia geral. Recentemente, a cetamina foi aprovada para tratar a depressão resistente ao tratamento convencional. Segundo Maekawa, os pesquisadores observaram que a cetamina pode proporcionar alívio rápido de sintomas depressivos, muitas vezes dentro de apenas algumas horas após o uso, oferecendo uma nova esperança para pacientes sem resposta aos tratamentos convencionais. A droga também parece ajudar a reduzir os pensamentos suicidas em pacientes com transtornos psiquiátricos graves. “A urgência em tratar e prevenir comportamentos suicidas, uma das principais causas de morte no mundo, ressalta a importância dessa nova opção de tratamento”, acrescenta.
O problema, informa o médico, é o uso da droga nas ruas, sem supervisão médica e para fins recreativos. A popularidade da cetamina como uma substância recreativa tem aumentado, especialmente em festas e rituais, onde é consumida por seus efeitos psicodélicos e dissociativos. Esse uso descontrolado pode resultar em experiências perturbadoras, psicose transitória (que é a perda de contato com a realidade), riscos à saúde física e danos psicológicos graves.
Alguns incidentes trágicos mostram os perigos do uso recreativo da cetamina. Há pouco tempo, o ator Matthew Perry, conhecido por seu papel na série Friends, teve sua morte ligada ao uso de cetamina. Aqui no Brasil, a morte de Djidja Cardoso (dançarina do Boi Garantido, grupo folclórico do Amazonas) durante um ritual religioso com uso de cetamina destaca os riscos do uso ritualístico de substâncias psicoativas e as complexidades éticas e de segurança envolvidas.
Maekawa conta ainda que, além dos usos recreativos e rituais, a cetamina também é usada de forma ilegal pelo tráfico para produzir uma droga sintética conhecida como special K, key, keyla ou keta; uso este que aumenta os riscos à saúde pública e “complica ainda mais os esforços para o controle e a redução de danos associados ao seu consumo”.
Enquanto a cetamina aparece como uma droga promissora para pacientes com condições psiquiátricas graves e resistentes ao tratamento, “é crucial implementar regulamentações mais rigorosas, aumentar a conscientização pública e desenvolver intervenções de saúde para reduzir os riscos associados ao seu uso recreativo, ritualístico e ilegal”, alerta.
Minuto Saúde Mental .
Apresentação: João Paulo Machado de Sousa
Produção: João Paulo Machado de Sousa e Jaime Hallak
Coprodução e edição: Rádio USP Ribeirão
Coordenação: Rosemeire Talamone
Apoio: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Translacional, iniciativa CNPq e Fapesp