O podcast Ambiente é o Meio desta semana conversa com o antropólogo e sociólogo Frederico Augusto Barbosa da Silva. Professor do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Silva é especialista em políticas públicas sociais e culturais e fala sobre violência contra povos indígenas, tendo como base dados do Atlas da Violência 2021, publicado recentemente pelo Ipea.
O Brasil, adianta o pesquisador, tem uma realidade indígena absolutamente heterogênea, com aproximadamente 305 povos indígenas, divididos em diversos grupos e etnias com histórias diferentes. Por essa razão, argumenta, as políticas públicas “nem sempre dão conta dessa diversidade”, pelas dificuldades para “fazer um planejamento do ponto de vista de uma política pública”.
Segundo o antropólogo, os dados do Atlas da Violência 2021 revelam “uma tendência contrária à tendência nacional”. Silva afirma que até 2020 as informações eram de declínio da violência letal, envolvendo também a questão indígena; mas agora “a inclinação da curva é ascendente”, analisa.
Conta que a elaboração do Atlas decorre sempre de “uma coleta difícil”; pela subnotificação em geral, os pesquisadores interpretam os dados com cautela. “A gente sempre olhou com muita desconfiança a informação sobre o indivíduo indígena” ter sido alvo de algum tipo violência, admite Silva.
Mas, analisando a realidade, o antropólogo vê que a questão da violência está relacionada à economia do País. Houve “um padrão de acumulação que abriu janelas para a expansão de atividades econômicas nas proximidades de territórios indígenas”, sejam de formas legais ou ilegais, com “explorações, invasões, usos inadequados” desses territórios. Contexto este que expôs os povos indígenas a “novos tipos de vulnerabilidade”.
Além das atividades econômicas privadas, Silva destaca que as “obras de infraestrutura do próprio Estado” também ameaçam os territórios indígenas. Segundo o pesquisador, trata-se de “um Estado muito contraditório”, porque ao mesmo tempo que preconiza e defende a preservação desses povos, “dá condições muito frágeis, muito precárias para que essa autodeterminação seja feita na sua plenitude”.
Ambiente é o Meio