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Ao longo da história, documentos elaborados por religiosos e oriundos de arquivos laicos retrataram os indígenas como agentes passivos e sem consciência de seus papéis históricos. Este perfil é encontrado principalmente nas fontes coloniais, retratando os povos originários como “indígenas de papel”. O termo e seu contexto serão o tema principal de um encontro virtual nesta sexta-feira (15), no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. A atividade gratuita acontece entre 14 e 17 horas e será transmitida no canal do Youtube do IEA, neste link. Não é necessário fazer inscrição prévia para participar.
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Além de procurar desconstruir o termo “indígenas de papel”, a palestra deve discutir as dificuldades e desafios metodológicos que os pesquisadores encontram ao analisar documentos manuscritos redigidos em latim, ou que requerem conhecimentos paleográficos e linguísticos específicos.
De acordo com Eliane Fleck, historiadora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e integrante do Grupo Tempo, Memória e Pertencimento, do IEA, o evento propõe a reflexão sobre as descrições e as representações construídas acerca dos indígenas americanos identificados na documentação produzida sobretudo por missionários, vinculados a diversas ordens religiosas, e, também, por viajantes e funcionários das coroas ibéricas ao longo dos séculos 16, 17 e 18.
“Nestas fontes, localizadas em arquivos latino-americanos e europeus, os grupos nativos americanos foram caracterizados tanto em termos de organização política, social e econômica, quanto linguísticos e simbólico-religiosos. Esta caracterização, tributária de uma visão eurocêntrica e difundida por meio de manuscritos ou impressos, desconsiderou, entre outros aspectos, a relevância da oralidade para os indígenas e as evidências de agência e protagonismo que, ora explicitamente, ora implicitamente, estas fontes revelam”, explica Eliane, que é responsável pela organização do evento na USP.
O encontro reunirá especialistas que irão debater e propor uma nova leitura sobre a representação dos povos indígenas nos arquivos históricos, “com o propósito de destacar a relevância da oralidade indígena e as evidências de agência e protagonismo”, afirma Eliane.
O evento contará com a presença de pesquisadores, um europeu e outro latino-americano, preocupados com a América Latina. Guillaume Candela, professor associado na Universidade de Leeds (UK) e pesquisador associado na Universidade de Novo de México, no Projeto Native Bound – Unbound; com pós-doutorado na Universidade de Brown (USA) em línguas indígenas do Caribe e da América Latina. Carlos D. Paz, professor na Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires. Atualmente trabalha num Projeto de Pesquisa no UNIFAP, abordando a questão das fronteiras coloniais e às crianças na Amazônia. Foi Pesquisador Visitante no PPGH-UNISINOS com uma Bolsa do CNPq.
Tempo, Memória e Pertencimento
Valorizar e preservar os documentos e monumentos ligados à história do País; fazer o conhecimento científico, produzido acerca da memória e da história cultural, chegar à população brasileira, inclusive aos currículos escolares. Estas são as principais motivações do Grupo de Pesquisa Tempo, Memória e Pertencimento, do IEA.
No canal do Youtube do IEA, o grupo já discutiu a representação dos indígenas em arquivos europeus, dentre eles o Archivo General de Índias (Sevilha, Espanha) e o Arquivo Histórico da Companhia de Jesus (ARSI) em Roma. A live apresenta estes documentos e mostra como os povos nativos foram observados, descritos, classificados e deles se elaboraram diferentes representações. Por exemplo, os tidos por “amigos”, nos quais achava-se alguns sinais de “polícia”; e os “bárbaros”, geralmente retratados como nômades e antropófagos.
Serviço
Indígenas de Papel (Arquivos europeus e latino-americanos)
Onde: http://www.iea.usp.br/aovivo
Quando: 15 de setembro, das 14 às 17 horas
Mais informações: http://www.iea.usp.br/eventos/indigenas-papel-arquivos
*Sob supervisão de Tabita Said e Antonio Carlos Quinto