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O que a sociedade ganha com a astronomia feita nas universidades públicas? Faz sentido investir recursos públicos na pesquisa de estrelas e galáxias distantes que nunca teremos a oportunidade de visitar, simplesmente para saciar nossa curiosidade científica sobre o universo? O mesmo questionamento poderia ser feito sobre a ida do homem à Lua, 50 anos atrás, e tantas outras linhas de pesquisa cujos benefícios práticos para a sociedade não são necessariamente óbvios de início, mas existem, e podem ser extremamente significativos para o desenvolvimento científico, tecnológico, econômico e social de um país, um continente, ou de toda a espécie humana.
Esse foi um dos princípios levantados pelo pró-reitor de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), Sylvio Canuto, para defender a importância da ciência acadêmica em seu depoimento à CPI das Universidades Públicas, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), na manhã da última segunda-feira, 16 de setembro.
Professor titular do Instituto de Física da USP, ele citou o Telescópio Gigante de Magalhães (GMT, em inglês), que está sendo construído no Chile, como exemplo — não tão óbvio — de um grande projeto de ciência e tecnologia que pode parecer sem finalidade prática a princípio, mas está longe de ser inútil. Assim como no caso da conquista da Lua, meio século atrás, a exploração científica do universo exige o desenvolvimento de diversas tecnologias — por exemplo, nas áreas de física, engenharia de materiais, análise de dados, captação e processamento de imagens — que começam sendo usadas nos telescópios, mas acabam chegando à indústria e à sociedade.
Para saber mais sobre o legado tecnológico da corrida espacial que levou o homem à Lua, veja o especial do Jornal da USP: O legado da Lua: 50 anos depois.
No caso do GMT, um dos grandes desafios é a construção dos espelhos de 8,4 metros de diâmetro, que necessitam de uma perfeição microscópica para funcionar. “O desenvolvimento de ciência e tecnologia para atingir isso está em curso e precisamos fazer parte disso”, disse Canuto. Os espelhos estão sendo construídos na Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, mas a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) é membro do consórcio internacional do GMT e há vários pesquisadores da USP envolvidos com o telescópio. A física Claudia Mendes de Oliveira, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, faz parte da diretoria e do conselho científico do projeto.
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Outros exemplos citados pelo pró-reitor incluem o Projeto Elsa (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto), envolvendo 15 mil pessoas em todo o Brasil; o desenvolvimento de técnica de controle biológico de pragas na agricultura, como alternativa ao uso de agrotóxicos; e o primeiro bebê nascido de um útero transplantado de doadora falecida, um feito médico e cirúrgico inédito no mundo, realizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Para ver mais exemplos e saber mais sobre a importância da ciência produzida nas universidades públicas, veja a reportagem especial do Jornal da USP: Fábricas de Conhecimento
Canuto também destacou a liderança da USP como maior produtora de ciência e maior celeiro de recursos humanos especializados e “unicórnios” do Brasil — como são chamadas as startups bilionárias, que superam US$ 1 bilhão em valor de mercado. Se fosse um país, a USP seria o terceiro maior produtor de conhecimento científico da América Latina (atrás apenas do próprio Brasil e do México). É a universidade que mais colabora com a indústria no País, como mostram os dados do relatório mais recente da empresa Clarivate Analytics; e quatro das oito startups unicórnios do País foram fundadas por alunos da USP (99, iFood, Nubank e Gympass) — fruto de um grande esforço de fomento ao empreendedorismo na instituição.
Para saber mais sobre os unicórnios da USP, veja a reportagem especial do Jornal da USP: Empreendedorismo na Universidade
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Canuto reconheceu que a ciência feita nas universidades costumava ser “muito acadêmica”, mas garantiu que isso está mudando. “Há uma aproximação com a indústria e um desejo da Universidade de contribuir mais para a economia brasileira”, disse. “A Universidade está atenta à inovação.”
Além de seus vários unicórnios, a USP abriga 11 dos 17 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fapesp; três dos oito Centros de Pesquisa em Engenharia da Fapesp; quatro dos 42 centros da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii); e 19 dos 102 Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), além de vários outros projetos, centros e iniciativas de excelência em pesquisa científica e tecnológica.
Com relação à qualidade dessas pesquisas, Canuto ressaltou que ela deve ser avaliada de forma criteriosa, sem ser “reduzida a meros fatores bibliométricos”. No geral, o índice de impacto da ciência produzida na USP está acima da média mundial, de 1.0.
Sobre os esforços da Universidade para se comunicar melhor com a sociedade, Canuto citou o USP Talks – iniciativa que realiza eventos públicos mensais com pesquisadores na Avenida Paulista, para debater temas da atualidade – e mostrou um dos vencedores de um concurso de vídeos de divulgação científica, produzidos por alunos de pós-graduação da USP. (Veja o vídeo abaixo.)
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Sobre a CPI
O depoimento de Canuto foi dado de forma informal, já que não houve quórum para a realização oficial da sessão. Apenas três dos nove parlamentares convocados para a reunião compareceram ao plenário: as deputadas Valeria Bolsonaro (PSL) e Professora Bebel (PT), além do presidente da comissão, Wellington Moura (Republicanos).
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi criada em abril de 2019 para investigar supostas irregularidades cometidas na gestão das universidades públicas estaduais.
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O diretor-executivo da Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp) e pesquisador do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da USP em Piracicaba, Antonio Vargas de Oliveira Figueira, também deu um depoimento à comissão, no qual explicou o funcionamento da fundação.
A maioria das perguntas dos parlamentares se referia ao repasse de recursos orçamentários da USP para a Fusp — o que não ocorre, segundo explicaram os professores —, a regras para a realização de convênios e contratos, e sobre a distribuição da carga horária de docentes entre ensino, pesquisa e atividades administrativas.
Os reitores da três universidades estaduais paulistas (USP, Unicamp e Unesp) e o presidente da Fapesp, Marco Antonio Zago, também já prestaram depoimento à CPI.