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Com o ano terminando, uma necessária pausa se faz quase que obrigatória, pelo menos nesses dias que antecedem a 2022, um ano que mistura expectativas e esperanças, mesmo com o coronavírus ainda por aí. Mas uma boa leitura ajuda a alimentar a mente e a apaziguar o espírito – e também é um bom convite para a reflexão. Nessa seleção abaixo, são apresentadas algumas sugestões, que vão desde questionamentos filosóficos e sociológicos sobre a pandemia e a questão da cidadania, o humor na sociedade e na política – porque também precisamos rir para entender o que nos cerca –, a biografia de um dos principais jornalistas econômicos brasileiros e uma importante discussão sobre o racismo na sociedade contemporânea, além de um thriller envolvente. Agora, é só escolher.
Duas ideias filosóficas e a pandemia
de Renato Janine Ribeiro. Estação Liberdade. 91 págs.
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Nos últimos dois anos, muito já se escreveu sobre a pandemia de covid-19 que engolfou o mundo e, só no Brasil, ceifou mais de 600 mil vidas. Mas pensar a pandemia é sempre necessário, principalmente no contexto brasileiro, eivado (ainda) de negacionismo e discursos de ódio. Nesse seu novo livro, Renato Janine Ribeiro – professor da USP, ex-ministro da Educação e atual presidente da SBPC – apresenta uma visão filosófica pessoal, cotejando essa catástrofe pandêmica com qualidades humanas básicas como compaixão (uma das ideias filosóficas do título, emprestada de Jean-Jacques Rousseau), piedade, solidariedade. Conceitos primordiais. A segunda ideia – “mais complexa”, segundo Janine – vem de Marx, que afirmou que a humanidade somente se propõe as tarefas que pode resolver. Isso aconteceu nesses tempos de pandemia? É o que Renato Janine Ribeiro questiona e reflete. “Discutir, pensar é necessário”, escreve ele.
Cidadãos substituídos por algoritmos
de Néstor García Canclini. Trad. de Diego Molina. Edusp. 216 págs.
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“Como repensar as questões da sociologia política segundo a perspectiva dos cidadãos? O que estão sentindo, vivendo, experimentando em relação às novas maneiras de se comunicar”, questiona a professora Larissa Leda F. Rocha, da Universidade Federal do Maranhão, na orelha desse novo volume do pensador argentino. Porque, afinal, quem se importa com os cidadãos? Canclini se preocupa, e abre sua discussão sobre cidadania e descidadanização em “um lugar onde houve direitos e agora há perplexidade: o dos cidadãos no capitalismo global e eletrônico”. Nesse longo ensaio, originalmente publicado em espanhol em 2019 e atualizado para esta edição da Edusp com novos trechos com análises das mudanças provocadas pela pandemia de covid-19, Canclini busca detectar os dilemas críticos das ações cidadãs, de sua potência ou frustrações, e dos procedimentos com que são estudados e interpretados, “a fim de explorar as mudanças de sentido civilizatório”.
Além do riso – Reflexões sobre o humor em toda parte
Organização de Elias Thomé Saliba, Thaís Leão Vieira, Leandro Antonio de Almeida. Ed. LiberARS. 330 págs.
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O humor e sua história são temas recentes na área da história acadêmica, ganhando corpo a partir dos anos 1980. “Foi no ambiente intelectual marcado pelo pós-estruturalismo e pela História Cultural que historiadores passaram a mobilizar vestígios das manifestações humorísticas para lidar com problemas e contradições, especialmente a modernidade na Primeira República”, escrevem os organizadores na apresentação deste volume, resultado de um esforço coletivo de reflexão sobre o tema. O livro apresenta 17 ensaios, que tratam desde “Humor e esfera pública” e “Humor e desafios em Plínio Marcos”, passando pelo periodismo humorístico na transição do absolutismo para o liberalismo em Portugal, as trocas culturais entre França e Brasil , até análises do humor em Chico Anysio e o humor cáustico de Machado de Assis. “Cada época gera uma visão sobre o lugar do cômico e sobre o papel dos códigos humorísticos na cultura. Por trás da opacidade do mero divertimento, cada época incorpora em suas ideologias e representações uma teoria a respeito do humor e do riso e é tarefa dos intérpretes acentuar sua historicidade sempre no sentido de delinear uma compreensão crítica de tais representações”, escreve Elias Thomé Saliba.
Joelmir Beting – O jornalista de economia mais influente do Brasil
de Edvaldo Pereira Lima. 290 págs.
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Professor da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP) por décadas, escritor, jornalista, Edvaldo Pereira Lima também é um especialista em escrever histórias de vida. E sua mais recente obra trata justamente de uma vida das mais relevantes: a do jornalista econômico Joelmir Beting (1936-2012), aquele que muitos acreditam ter sido um dos únicos – se não o único – a saber destrinchar e deslindar os meandros das políticas econômicas de sucessivos governos brasileiros para a população incauta. Afinal, quem melhor seria capaz de aliviar a ansiedade gerada por políticas públicas que soavam sem pé nem cabeça e que jamais solucionavam o inferno da inflação que corroía os sonhos dos brasileiros? Joelmir Beting cumpriu muito bem esse papel por décadas em jornais impressos e na TV, se tornando uma referência no jornalismo econômico no Brasil e no mundo. E seu retrato que sai ao final das quase 300 páginas deste livro mostra um homem que nunca abandonou suas raízes interioranas (mesmo quando ganhou o mundo para fazer reportagens e palestras, sendo basicamente monoglota), ético, pautado pela generosidade, pelo trabalho duro (até no leito de morte) e pela curiosidade, e um apaixonado pelo futebol – palmeirense fanático, Joelmir também foi repórter esportivo (é dele a expressão “gol de placa”). Um retrato com as cores corretas e com uma tridimensionalidade que fazem jus ao biografado.
“Contrariando a estatística” – Genocídio, juventude negra e participação política
de Paulo César Ramos. Alameda Editorial. 324 págs.
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Doutor em Sociologia pela USP e pesquisador do Núcleo Afro Cebrap, Ramos traz neste livro o resultado de uma pesquisa de mestrado (concluída na UFScar) que acompanhou, a partir da criação do Movimento Negro Unificado, em 1978, “a violência socialmente exercida pelas instituiçõies brasileiras contra a juventude”, como escreva Valter Silvério na apresentação do trabalho. Nesse livro são apresentadas problemáticas e desvendados itinerários que contribuem para a compreensão das complexas dinâmicas do racismo, mas também da política antirracista. Como afirma a pesquisadora Juliana Borge no livro, “o reconhecimento da inegável relação entre racismo, violência e desigualdade é decorrência direta do movimento e ação política dos jovens negros”. Uma relação que Paulo César Ramos analisa muito bem em seu trabalho.
Navalhas pendentes
de Paulo Rosenbaum. Grupo Editorial Caravana. 328 págs.
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Doutor e mestre pela USP, especializado em Medicina Preventiva, Rosenbaum se divide entre a medicina e a atividade literária. Neste seu terceiro romance, ele cria uma armadilha para o leitor, com citações, ironias e referências intertextuais que, ao mesmo tempo que arma e desarma a leitura, cria sua narrativa. E, na história, as lâminas que assombram o personagem principal – Homero Arp Montefiore – são signos denunciadores, pairando como fios que conduzem aos crimes que ele teria (ou não?) cometido. O leitor é quase convidado a, no papel detetive, se envolver na história e desvendar seus segredos.