“Nosso tempo é o tempo do outro. Pois os tempos são outros. E o outro mais ainda”, escreve o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro no prefácio do livro A Queda do Céu, de Davi Kopenawa e Bruce Albert. A partir dessa proposição, serão pensadas a multiplicidade de temporalidades, assunto que permeia o seminário 3 x 22: Diálogos Improváveis. Organizado pelos órgãos ligados à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP, o evento, on-line e gratuito, acontecerá nesta semana, entre os dias 13 e 17 de setembro, a partir das 15 horas, no canal do evento no Youtube.
O seminário terá mesas-redondas e atividades artístico-culturais em que serão abordados aspectos diversos do “contar o tempo”, discutindo criticamente as datas do bicentenário da Independência e do centenário da Semana de Arte Moderna – celebradas em 2022 – à luz dos desafios contemporâneos da sociedade brasileira. O objetivo é estimular a reflexão sobre como e o que comemorar nos 200 anos de Independência do Brasil.
Segundo o professor Alexandre Saes, do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, responsável pela organização do evento, o mais importante é destacar a participação de todos os órgãos da PRCEU. Como diz o professor, a Pró-Reitoria é composta de órgãos com vocações muita distintas, citando o Centro Universitário Maria Antonia, que traz debates e cursos, o Teatro da USP (Tusp), com suas peças teatrais, o Coral da USP (Coralusp) e a Osusp (Orquestra Sinfônica da USP), com a música, o Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp) e sua programação de cinema, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) e os estudos brasileiros, e o Parque Cientec, vinculado à ciência. “Nós conseguimos trazer cada contribuição dos órgãos para realizar um evento com essa riqueza de visões, e várias perspectivas para pensar uma mesma temática”, afirma, acrescentando que, além das mesas, toda a programação cultural foi criada originalmente para o evento.
O próprio título do evento, Diálogos Improváveis, tem esse caráter de pontos de vista diversos, diz o professor. “Procuramos trazer essas várias perspectivas e formas de manifestações artístico-culturais e científicas”, reitera. Além disso, informa, na programação das mesas, os palestrantes possuem formações muito diversas, com olhares para uma mesma temática a partir de pontos de partida bastante distintos. Uma diversidade que, para o professor, deve ser muito valorizada no atual momento em que vivemos. “Por mais distintas que sejam as formas de discussão e compreensão, é preciso estabelecer esses diálogos entre diferentes vozes”, afirma.
Ao mesmo tempo, Saes diz que há duas grandes questões que serão levantadas durante o evento. Uma delas acerca do projeto 3 x 22, que vem sendo realizado pela Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin desde 2017, e pensado a partir das datas da Independência de 1822, a Semana de Arte Moderna de 1922 e o ano de 2022, visto dentro do contexto atual, conturbado e repleto de conflitos. “Mais do que comemorar, precisamos refletir sobre esse significado de 200 anos do Brasil, sobre o que é modernidade, e como essas questões se colocam hoje”, espera. A segunda questão diz respeito ao tempo: “Partimos dessa ideia do confronto de temporalidade, e foi daí que surgiu o tema do seminário, que trazia como ponto de partida o evento 3 x 22, mas que tinha como discussão o tempo nas suas várias perspectivas.”
Como explica o organizador, os participantes das mesas vão debater as formas de se compreender o tempo, ou mesmo outras formas de se construir o tempo, como fazem os indígenas, por exemplo, ou ainda de se pensar as tradições e olhar para o futuro. “O tempo virou esse grande tema que permeia todas as mesas, olhando para trás, mas sempre com a ideia de projetar propostas para o futuro”, informa. O organizador ainda lembra as comemorações do último 7 de Setembro, que traz à luz questões sobre o sentido de se olhar para essa data e o significado da construção de um país.
Programação científica e cultural
O seminário 3 x 22: Diálogos Improváveis dá voz a professores, pesquisadores e profissionais de diferentes formações. Um evento bastante democrático e plural, como define o organizador. Há pesquisadores e professores da USP e de outras universidades brasileiras, mas há também pessoas ligadas a movimentos sociais, vinculadas a questões raciais e indígenas. São cinco mesas-redondas, que ocorrerão a partir das 15 horas, com as seguintes temáticas: Outros Tempos (segunda, dia 13), Memória é Vela ou Âncora? (terça, dia 14), Invenção de Tradições (quarta, dia 15), Ousar Reinventar o Futuro (quinta, dia 16) e Tempo e Espaço, Navegando Todos os Sentidos (sexta, dia 17), além de uma grande programação artística, com intervenções, apresentações teatrais, musicais e exibições de filmes.
O seminário 3 x 22: Diálogos Improváveis acontecerá entre os dias 13 e 17 de setembro, das 15 às 19 horas, no canal do evento no Youtube. As atividades são gratuitas e sem necessidade de inscrição. Programação completa neste link.