Foto: Divulgação/Museu Paulista
Ciência é protagonista na restauração do famoso quadro da independência do Brasil
Especialistas da USP nas áreas de física e química usaram técnicas que permitem devolver o aspecto original da obra Independência ou Morte; veja em resumo como foi o processo
No imaginário de muitos brasileiros, a independência do país está associada à pintura Independência ou Morte, de Pedro Américo. Com seus personagens e ambientação idealizados, a obra conferiu tom épico a um acontecimento que, segundo testemunhas da época e pesquisas históricas posteriores, teria sido bem menos glorioso. Pintada em Florença, na Itália, em 1888, embarcou para o Brasil e foi apresentada pela primeira vez ao público brasileiro já no período republicano, em 7 de setembro de 1895, durante a inauguração do Museu do Ipiranga.
Peça mais importante do acervo e reproduzida em livros didáticos, tornando-se uma espécie de retrato oficial da nacionalidade, passou desde o início de 2019 por um processo de restauração que tem a ciência como aliada na busca por manter o aspecto original da obra e agora aguarda uma aplicação final de verniz que ficou para 2022, quando o Museu será reinaugurado.
Para atingir esse objetivo, contou com assessoria especial de dois pesquisadores do Instituto de Física (IF) da USP, a professora Marcia Rizzutto e o pós-doutorando Pedro de Campos; além de duas pesquisadoras do Instituto de Química (IQ) da USP, a professora Dalva de Faria e a pós-doutoranda Isabela dos Santos.
Confira abaixo um resumo de como foi esse processo.
A obra
O quadro ‘Independência ou Morte’ (1888) de Pedro Américo é considerado a representação mais consagrada e difundida do momento da independência do Brasil.
Artista: Pedro Américo
Técnica: Óleo sobre tela
Acervo: Museu do Ipiranga
Período: 1888
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2021/09/20210703_quadro_pedro_americo.jpg)
Pintura "Independência ou Morte", de Pedro Américo - Foto: Acervo Museu do Ipiranga
“Independência ou morte” foi uma obra encomendada pela Família Imperial, com a ideia de ressaltar o poder monárquico do recém-instaurado império. No Brasil, a tela foi exposta pela primeira vez em 7 de setembro de 1895, na inauguração do Museu do Ipiranga.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2021/09/20210910_ao_nobre_-_acervo_museu_paulista_da_usp.jpg)
Panorama do Salão Nobre do Edifício-Monumento, construído para abrigar a tela "Independência ou Morte", de Pedro Américo - Foto: Divulgação/MP
![question question](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/elementor/thumbs/question-pcxgou4biu1er9jrzi1pdz4kvhdd6r7yeqxjii3nqg.png)
Você sabia?
Medindo 415 x 760 cm, a pintura é bem maior que as portas e janelas do Museu do Ipiranga: a tela foi montada originalmente onde está até hoje e nunca foi retirada de lá.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2021/09/Pedro_Americo-300x300-1.png)
Foto: M. Nogueira da Silva via Wikimedia Commons
Pedro Américo
Pedro Américo de Figueiredo e Melo foi um romancista, poeta, cientista, teórico de arte, ensaísta, filósofo, político e professor brasileiro, mas é mais lembrado como um dos mais importantes pintores acadêmicos do Brasil, deixando obras de impacto nacional.
Sua obra esteve inserida na arte neoclássica, privilegiando temas históricos e personificações, como é o caso de “Independência ou Morte”, uma de suas obras cívicas.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2021/09/museu_do_ipiranga_300px.png)
Foto: Divulgação/Museu Paulista
O Museu do Ipiranga
O edifício histórico localizado no Parque da Independência, conhecido pelo nome de Museu do Ipiranga, tem como nome oficial Museu Paulista da Universidade de São Paulo. É uma instituição científica, cultural e educacional com atuação no campo da História e cujas atividades têm, como referência permanente, seu acervo histórico.
O edifício está fechado para visitação do público desde 2013, quando foi detectado risco iminente de queda do forro. A expectativa é que seja reaberto em setembro de 2022, completamente renovado e ampliado, para a celebração do bicentenário da Independência do Brasil.
A restauração do quadro
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2021/09/20210703_quadro_pedro_americo_restauracao2.jpg)
Foto: Daniel Antônio/Agência Fapesp
Devido à ação do tempo, “O Grito do Ipiranga” começou a apresentar sinais de desgaste. Assim, foi recrutada uma equipe de nove profissionais, sob o comando da especialista em restauro do Museu do Ipiranga Yara Petrella, para iniciar o processo de restauro da tela.
Além de reparar danos causados pela ação do tempo, os restauradores buscaram devolver à pintura suas cores originais – retirando a sujidade acumulada com o tempo, recompondo pontos de perda na camada pictórica original e retirando vestígios de restauros antigos, como um amarelado indevido em certa região do céu.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2021/09/info_mp01.png)
Pesquisa de
documentação
Em 2017, a equipe realizou um levantamento de documentos sobre a pintura. Desse modo foram obtidos detalhes sobre as cores originais, bem como as áreas retocadas nos três restauros anteriores, sendo o último de 1972.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2021/09/info_mp02.png)
Reflectografia em infravermelho
A imagem em infravermelho permite visualizar os traços iniciais, a grafite ou carvão, que Pedro Américo recobriu depois com camadas de tinta. A técnica também é usada para revelar pentimenti (alterações realizadas na obra), áreas de retoques e falsificações.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2021/09/info_mp03.png)
Espectroscopia por fluorescência de raios X
As técnicas espectroscópicas possibilitam determinar a paleta de cores e, por decorrência, sugerir os pigmentos usados originalmente pelo artista. Permitem ainda identificar pigmentos alterados ou que possam ter sido empregados em restaurações anteriores
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2021/09/info_mp04.png)
Microscopia Raman
Como certos elementos químicos podem estar presentes em mais de um pigmento, o processo de identificação pode deixar dúvidas sobre qual foi o material usado. Para determinar a substância, é adotada a microscopia Raman, que analisa fragmentos microscópicos do quadro e determina sua composição química.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2021/09/info_mp05.png)
Restauração
Nesta etapa, a equipe de restauradores utiliza-se de todo o conhecimento sobre a obra acumulado nas fases anteriores para aplicar uma nova camada de tinta sobre a obra, respeitando seu aspecto, materiais e técnicas originais. Para esta última restauração, foram utilizados pigmentos com Paraloid B72 ou tintas prontas para retoque, que são mais reversíveis do que a tinta a óleo e facilitam possíveis restaurações futuras.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2021/09/info_mp06.png)
Envernizamento
Após o restauro, o quadro será recoberto com verniz, que resiste a muitos anos sem amarelecer. Esta etapa será feita em 2022, perto da data prevista para a reabertura do Museu do Ipiranga.
Confira o vídeo elaborado pela Agência Fapesp sobre a restauração do quadro:
Veja também o programa Você e o Pesquisador com Marcia Rizzutto, do IF, sobre como funciona o processo de restauração:
Fontes:
“Quadro ‘Independência ou Morte’, de Pedro Américo, chega à fase final de restauro” – Folha de São Paulo, 29/04/2020.
“A famosa tela Independência ou Morte (1888) foi restaurada” – Veja São Paulo, 08/05/2020
“Restauração do quadro Independência ou Morte alia ciência e arte em SP” – Governo do Estado de São Paulo, 19/02/2020
“Independência ou Morte (Pedro_Américo) – Wikipedia
Texto adaptado de Agência Fapesp
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2019/04/icone_politica_de_uso_jornal_da_usp2.png)
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.