Em 1990 e 1992, a Rádio USP (93,7 MHz) transmitiu duas entrevistas com o professor Antonio Candido (1918-2017), que nesta terça-feira, dia 24 de julho, faria 100 anos. Realizadas pelo jornalista Marcello Bittencourt, as entrevistas foram apresentadas numa série de programas intitulada “Esta é a USP”.
Nelas, Antonio Candido – que estudou na USP entre 1939 e 1942, formando-se em Ciências Sociais – relembra a atuação dos professores franceses que formaram os primeiros quadros docentes da Universidade, fundada em 1934, entre eles Paul-Arbousse Bastide, Jean Maugüé, Fernand Braudel, Pierre Monbeig, Roger Bastide e Claude Lévi-Strauss.
Para Candido, a importância da chamada “missão francesa” se deve principalmente ao “espírito” que aqueles docentes transmitiram. “Devemos a alguns desses professores franceses a descoberta do Brasil”, afirma Candido. “Vivíamos tão impregnados de cultura francesa, na classe média brasileira, que às vezes conhecíamos melhor as coisas da França e da Europa do que as coisas do Brasil. Eles levaram seus estudantes a se interessar por temas como o problema do negro, o problema do caboclo, o crescimento das cidades brasileiras, o pobre em São Paulo, as zonas de colonização do Paraná e as formas de ocupação de terras nos empreendimentos agrícolas, por exemplo.”
Nas entrevistas, o professor fala ainda do clima intelectual da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP – uma “sensação indescritível de estar vivendo uma grande aventura cultural” -, da repressão instaurada pela ditadura militar (1964-1985), da criação do Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo – concebido por Candido – e ainda da bem-humorada troca de correspondência, em português arcaico, com o historiador Sérgio Buarque de Holanda.
Ouça nos links acima trechos das duas entrevistas concedidas pelo professor Antonio Candido ao jornalista Marcello Bittencourt.