Dossiê da “Revista USP” ganha novos significados com fim da Copa

Lançada on-line antes da competição, revista está disponível agora em versão impressa

 20/07/2018 - Publicado há 6 anos
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Cartazes de diferentes Copas do Mundo – Fonte: Wikimedia Commons

A Copa do Mundo de 2018 acabou e já deixou muitos torcedores com saudades. Ainda no clima do torneio, a Revista USP disponibilizou a versão impressa da sua edição 117, que traz o dossiê Copas do Mundo. Os textos, que já podiam ser acessados on-line, ganham nova vida e significado após o término da competição, abordando assuntos que foram amplamente debatidos durante a competição. São seis artigos, metade escrita especialmente para essa edição e outros três apresentados no 2° Simpósio Internacional de Estudos sobre o Futebol, que ocorreu em maio de 2014.

A beleza no futebol
O filósofo alemão e linguista Gunter Gebauer  assina o primeiro artigo, “Sobre a beleza do futebol”. Sua intenção é comparar os lances de uma partida de futebol a uma obra de arte clássica. Para ele, diferentemente desta, “o futebol é um jogo dirigido para o fracasso da beleza”, pois os dois times em campo tentam de todas as formas evitar que o adversário construa uma bela jogada. Mas o que é exatamente a beleza no futebol? De acordo com Gebauer, ela está intrinsecamente ligada a dois fatores: o sucesso e a ameaça. A seleção belga que disputou a Copa da Rússia pode ser um ótimo exemplo para essa concepção do filósofo. A vitória por 2 a 1 que eliminou a favorita seleção brasileira nas quartas de final seria, nessa visão, mais bela do que a goleada de 5 a 2 contra a Tunísia, ainda na fase de grupos. Isso porque, apesar de em ambas as partidas a Bélgica ter sido vitoriosa, ou seja, ter tido sucesso, o Brasil é uma ameaça muito maior do que o país africano, por ter um elenco mais qualificado.

O futebol na URSS
Em um dos textos preparados especialmente para esta edição da Revista USP, o jornalista Juca Kfouri, formado em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, comenta algumas participações da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) no torneio. O título do artigo, “A Fifa é anticomunista! Jamais deixará a União Soviética ganhar uma Copa do Mundo”, remete à frase de um jornalista soviético após a eliminação contra o Brasil na edição de 1982 da competição, partida em que a não marcação de dois possíveis pênaltis teria favorecido os brasileiros. É especialmente interessante ler o texto após a grande campanha da Rússia na Copa de 2018, país que herdou a maior parte do território da URSS. Jogando em casa, a seleção russa, que estava desacreditada antes do torneio, fez grande campanha, sendo eliminada nos pênaltis pela Croácia, que aliás também fez parte de um país com governo comunista: a Iugoslávia. Além disso, as discussões sobre polêmicas em relação a arbitragem ganharam novos contornos depois da instalação do árbitro de vídeo, conhecido como VAR.

O futebol feminino
No últimos mês, surgiram na internet diversos movimentos que problematizavam os motivos que fizeram com que a versão masculina da Copa do Mundo tenha muito mais apelo popular do que a feminina. As professoras Silvana Vilodre Goellner, da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Cláudia Samuel Kessler, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), discutem justamente esse assunto em seu artigo “A sub-representação do futebol praticado por mulheres no Brasil: ressaltar o protagonismo para visibilizar a modalidade”. Nele, elas abordam o contexto histórico do futebol feminino no Brasil, mostrando que, por muito tempo, a forma competitiva da modalidade foi mal vista e até proibida por lei no País, sendo assim pouco desenvolvida. As autoras também criticam a mídia, que ainda hoje disponibiliza pouco destaque aos campeonatos femininos, mesmo com o ótimo desempenho da seleção brasileira, que já foi vice-campeã mundial e coleciona sete títulos do torneio sul-americano de futebol feminino, em oito edições disputadas.

As seleções africanas
O professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo José Paulo Florenzano comenta, em seu artigo inédito “Quando éramos exóticos: futebol e alteridade”, como certos estereótipos sobre times africanos são propagados pela mídia especializada. Ingênuos, alegres, sem disciplina tática e irracionais são alguns deles. Ele vai ainda mais longe, mostrando como muitos times realmente assimilam essas críticas, contratando técnicos europeus para, de certa forma, “racionalizar” o modo de jogar de suas seleções. Na Copa deste ano, por exemplo, apenas Senegal e Tunísia, dos cinco times africanos participantes do torneio, tinham um treinador local. O autor também traça paralelos com a seleção brasileira, que por muito tempo foi enxergada do mesmo modo. Ele ainda discute a mudança no estilo de jogo das seleções europeias por causa da presença de filhos de imigrantes, assunto que ganhou foco ainda maior após o título da seleção francesa de futebol.

Rivalidade na América do Sul
A Copa deste ano poderia ter recebido um grande clássico sul-americano, entre Brasil, Argentina ou Uruguai, caso suas campanhas tivessem sido melhores. A rivalidade entre essas nações é o tema do artigo “A rivalidade Argentina-Brasil-Uruguai no Futebol”, escrito pelo professor uruguaio e sociólogo Rafael Bayce, também presente no dossiê da nova edição da Revista USP. Primeiramente, Bayce explica o contexto em que cada uma dessas rivalidades surgiram, mostrando que, diferentemente das disputas que envolvem a seleção canarinho, o clássico entre uruguaios e argentinos possui raízes históricas profundas. Ele ainda se propôs a difícil tarefa de analisar estatisticamente o histórico dessas três equipes. São analisados, entre outros fatores, os confrontos diretos, as participações em Copas do Mundo e o desempenho de seus clubes locais em competições internacionais.

Capa da Edição 117 da Revista USP – Fonte: Revista USP

Corrupção e futebol
O sexto artigo do dossiê, “E la nave va: Fifa, CBF e o Brasil sob a tempestade política”, feito especialmente para a Revista USP, aborda as investigações sobre corrupção no futebol que levaram à prisão de cartolas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a uma crise institucional na maior entidade do esporte, a Fifa. Os autores do artigo, professor Flávio de Campos, docente do Departamento de História da FFLCH e coordenador científico do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Futebol e Modalidades Lúdicas da USP, e Luiz Guilherme Burlamaqui, doutorando em História Social da FFLCH, traçam uma retrospectiva das instituições ligadas ao futebol no País, relacionando-as com certos momentos da política brasileira, como a ditadura militar (1964-1985). Os autores analisam também o papel da maior entidade do futebol mundial nos recentes escândalos envolvendo direitos de transmissão e escolhas das sede de Copas do Mundo, como a Rússia e o Catar.

A seção Arte desta edição encerra o tema do dossiê com a coleção de todos os cartazes de Copas do Mundo, desde a primeira edição, realizada em 1930, no Uruguai, até os dias atuais. Os projetos gráficos são acompanhados de uma pequena explicação, que permite entender quais eram as tendências artísticas da época em que cada torneio se insere, assim como suas intenções políticas e de marketing.

A edição 117 da Revista USP possui também conteúdos externos ao mundo da bola, como suas tradicionais seções de Livros e Textos, que desta vez abordam assuntos como as dificuldades da tradução, a imigração cigana no Brasil e a história das editoras universitárias no Brasil.

A Revista USP, número 117, com o dossiê “Copas do Mundo”, publicação da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP, está disponível on-line neste link. A versão impressa custa R$ 20,00 e pode ser solicitada pelo e-mail revisusp@edu.usp.br ou pelo telefone (11) 3091-4403.

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