Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Luca Vitone recria o tempo, da Antiguidade ao presente

Artista italiano mostra no MAC obras que apresentam a Villa Adriana, do século 2 d.C.

 21/10/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 24/10/2022 às 13:00

Texto: Leila Kiyomura

Arte: Adrielly Kilryann

São nove telas de grandes dimensões. Em um primeiro momento, o espectador terá a impressão de que são abstracionistas. Mas não. Um olhar atento capta as paisagens reais do tempo.  E é possível perceber a dimensão da mostra Eu, Villa Adriana. A exposição, apresentada pelo Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, em parceria com o Instituto Italiano de Cultura e apoio do Consulado da Itália, ambos de São Paulo, traz a arte de Luca Vitone.

Com a curadoria de Anne Palopoli e Andrea Bruciati, revela a sua incursão a um dos conjuntos arquitetônicos mais emblemáticos da Roma antiga. Traz detalhes inusitados da villa de veraneio do imperador Adriano em Tivoli, Roma, que remonta ao século 2 d.C. 

“Luca Vitone é um artista italiano reconhecido internacionalmente, que tem se dedicado ao tema da memória dos lugares e seu valor simbólico em determinados contextos”, explica a professora Ana Magalhães, diretora do MAC. “Ele trabalha proposições instalativas, filmes e vários outros meios.”

Ana Gonçalves Magalhães - Foto: Reprodução/FAPESP

A professora Ana Gonçalves Magalhães, diretora do MAC - Foto: Reprodução/Fapesp

“Junto às telas, Vitone insere um conjunto de gravuras do grande ruinista italiano do século 18 Giovanni Battista Piranesi, nas quais ele intervém com desenhos à mão”

O visitante pode observar e refletir sobre o tempo e a paisagem que compõem a Villa Adriana. Todas as telas foram enfileiradas para que o visitante consiga perceber as cores e paisagens de cada uma delas. “Junto dessas obras, Vitone insere um conjunto de gravuras do grande ruinista italiano do século 18 Giovanni Battista Piranesi, nas quais ele intervém com desenhos à mão”, observa Ana Magalhães. “A presença delas alude às transformações de um lugar pelo tempo, este não só na sua dimensão natural, mas também nos modos de construção imaginária, fictícia e política dos espaços.”

Ana ressalta que a Villa Adriana é um desses lugares imantados por narrativas que conceberam para a contemporaneidade uma certa noção de antiguidade, universalidade e classicismo.  “A ação de Vitone expõe suas contradições e agenciamentos, atualizando a noção de lugar, algo que o artista persegue e investiga desde sempre em sua obra.”

A mostra-instalação Eu, Villa Adriana traz também fragmentos arqueológicos cedidos em empréstimo pelo acervo da Villa Adriana.  “O espectador consegue se colocar nessas várias camadas de leitura e percepção do tempo que Vitone quer mobilizar.”

Além de três painéis com fragmentos de reboco pintado encontrados na villa, há ainda uma estátua em mármore que representa a divindade egípcia Horus em forma de falcão. Essa estátua fica na ponta central do espaço e traz a atmosfera encontrada pelo artista. “Completa a exposição uma obra site-specific realizada com a poeira recolhida no Observatório de Roccabruna, lugar onde o imperador Adriano realizava seus estudos astronômicos.” 

Ana Magalhães faz uma comparação entre a Villa Adriana e o lugar onde o MAC se situa, aliando o tempo e o espaço da arte.  “Assim como o sítio arqueológico que serviu de base ao trabalho de Luca Vitone, o MAC também se assenta em um terreno imantado, no qual muitos projetos de modernidade foram sonhados para o Brasil”, destaca. “Sabemos também que o Ibirapuera guarda hoje, em seu itinerário de monumentos, muitos paradoxos da história deste país, com questões sociais e políticas nunca superadas. Embora sejam outros tempos e outras narrativas, talvez a Villa Adriana e o Ibirapuera tenham em comum a ideia de um projeto utópico ambicioso, mas que continua a propagar certa imagem contraditória da Itália e do Brasil.” 

Luca Vitone - Foto: Reprodução/Youtube

O artista italiano Luca Vitone - Foto: Reprodução/Youtube

A exposição Eu, Villa Adriana, de Luca Vitone, fica em cartaz até 29 de janeiro de 2023, de terça-feira a domingo, das 10 às 21 horas, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP (Avenida Pedro Álvares Cabral, 1.301, Ibirapuera, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 2648-0254.


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