Capa do livro e Mário de Andrade - Fotomontagem com imagens de Divulgação/IEB e Reprodução/Biographical Encyclopedia por Adrielly Kilryann

Livro traz fotos inéditas de Mário de Andrade

Obra reúne imagens feitas pelo escritor modernista em viagem pelo Nordeste brasileiro no final dos anos 1920

 20/12/2022 - Publicado há 1 ano     Atualizado: 21/12/2022 as 16:00

Texto: Mariana Carneiro

Arte: Adrielly Kilryann

Em dezembro de 1928, o poeta modernista Mário de Andrade partiu em uma excursão de três meses pelo Nordeste brasileiro. Durante o percurso, com sua “codaque” em mãos — apelido abrasileirado que o autor deu à câmera Kodak Vest Pocket que portava —, Andrade produziu 262 fotografias, dentre as quais selecionou 25 para compor um álbum que deixou inédito. Sem anotações, legendas ou datas, o material foi encontrado após a morte do escritor, em 1945, e confiado ao acervo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP.

Agora, sob a organização do fotógrafo e documentarista Luiz Bargmann, o álbum é apresentado pela primeira vez ao público em uma edição expandida e comentada, que reúne fragmentos de crônicas de Mário de Andrade e fotos descartadas pelo escritor no processo de confecção da obra. Lançado no dia 15 de dezembro passado, o livro chama-se Viagem ao Nordeste Brasileiro 1928-1929 – Álbum de Fotografias de Mário de Andrade e está disponível para download gratuito no site do IEB

“Montar um álbum é um ato de celebração, e a fotografia é privilegiada para essa finalidade por trazer à memória, com riqueza de detalhes, a imagem de fatos passados, afetos e lembranças da vivência pessoal e coletiva”, afirma Bargmann no artigo “Da câmera ao álbum”, incorporado ao livro. Também participam da edição o fotógrafo Cristiano Mascaro e o cineasta Carlos Augusto Calil, que contextualizam o material nos textos analíticos “O álbum com 25 fotografias de Mário de Andrade” e “Que-dê o fotógrafo?”, respectivamente. Já Telê Ancona Lopez, Professora Emérita do IEB, assina o texto de abertura da obra.

Turista aprendiz

Durante seu trajeto pelo Nordeste, Mário de Andrade escreveu uma coleção de crônicas para o jornal paulista Diário Nacional, publicadas sob o título “O turista aprendiz”. Rentáveis, tais textos viabilizaram financeiramente a viagem e, hoje, servem de suporte para o entendimento das fotografias que resultaram da experiência.

A edição organizada por Luiz Bargmann justapõe as imagens à escrita do autor, o que adiciona contexto ao álbum. A obra abarca registros da arquitetura local, paisagens e retratos dos três Estados que o poeta percorreu: Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

Intendência e cadeia (1929), fotografia de Mário de Andrade - Foto: Reprodução/IEB

Bom Jardim, 7 de janeiro Vou-me embora, viver vida de engenho por uns dias, a Oldsmobile rola por essas estradas. Às vezes dança umas valsas desengonçadas. […] É zona litorânea. O coqueiro é que brinca na paisagem. O resto são tabuleiros, mais tabuleiros, que nem o nosso cerrado monótono, acachapado por um verde-cinza esturricando a alma da gente. E por aqui foi mar… Não se vê mais esse mar, porém certas feitas a vegetação rareia no horizonte curto e aparece um restinho de careca, duna encardida que já não é duna mais. O terreno se resolve em pó de areia e a estrada sulca-se em ss que não têm fim. Então o automóvel valsa desagradável. Atravessamos São José, cidade do Sol. A casa da Intendência é sem querer uma preciosidade arquitetônica. Não aplaude o modernismo, assim pesada e os vinte degraus da escadaria. Mas é dum equilíbrio santo” — Excerto da crônica “O turista aprendiz”, publicada pelo Diário Nacional em 7 de janeiro de 1929.

Mário havia, também, conhecido o Norte do País em uma longa viagem realizada em 1927. A ocasião marcou o início da prática fotográfica do poeta, que capturou 50 filmes durante os três meses que passou no Amazonas. ”Com criatividade e poesia, o fotógrafo experimentou o enquadramento da câmera, o jogo de luz e sombra, a composição; explorou a documentação etnográfica, a arquitetura, a geografia”, escreve Luiz Bargmann.


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