São 255 rostos para serem tocados e até reconhecidos. Autorretratos criados por artistas ou não, professores, pessoas videntes e sem visão, gente em tratamento psiquiátrico, enfim, homens e mulheres que se integram através da arte no espaço da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP. A partir desta quinta-feira, dia 7, a exposição Toque pode ser visitada gratuitamente e, como o próprio título convida, é para ser tateada e tocada à vontade. E, nesse movimento, quem sabe sentir detalhes que igualam os seres humanos.
Refletir sobre o coletivo é a proposta do artista, curador e criador do projeto, Hélio Schonmann. “Cada autorretrato da instalação é uma expressão individual por contraste, mas uma expressão coletiva por semelhança”, explica. “Na verdade, essas obras juntas compõem uma única obra. Estão integradas compondo o humano em sua grandeza e precariedade.”
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Toque é um convite para a imersão. O visitante caminha entre caixas de madeira, todas brancas, empilhadas. Aí vai identificando os diferentes rostos feitos por diferentes pessoas. “Todas receberam uma placa e moldaram o seu próprio rosto, exatamente como se veem”, conta Schonmann. “O material utilizado foi o mesmo para todos: papel, papelão e cola branca. Os artistas moldaram e criaram livremente, mas aqueles que nunca tinham manipulado o material tiveram orientação de um professor. Como moldar o próprio rosto foi o desafio.”
O resultado é a integração de sentimentos e sonhos diversos. Uma das obras é sintetizada por um óculos. Outra, talvez mulher, criou o seu retrato de costas. Houve quem moldou uma flor. Alguns se mostraram de perfil, em um trabalho bem detalhado. Outros esculpiram seus olhos vazados. E há os abstratos sugerindo formas para serem tateadas e descobertas. Tem ainda os que buscaram lembranças de infância e relacionaram a sua imagem a um brinquedo.
A arte não é sinônimo de cifrão, não depende de dinheiro. O projeto Toque prioriza o nexo com a realidade social.”
Quando decidiu se dedicar a um trabalho que pudesse compartilhar a sua experiência de professor e artista, Hélio Schonmann procurou despertar a essência da atividade artística. “O meu questionamento é como atuar poeticamente e artisticamente nessa realidade econômica, social”, observa. “A arte não é sinônimo de cifrão, não depende de dinheiro. O projeto Toque prioriza o nexo com a realidade social, que é de total precariedade. Busca o direito de todos à expressão.”
Schonmann começou a desenvolver o projeto com artistas e professores, incentivando as pessoas em geral a criarem e moldarem o seu autorretrato. “A meta era criar um projeto em processo. A primeira exposição, há quase três anos, apresentou 70 obras. Hoje são 255, exibidas como um totem que vai continuar crescendo e agregando novas pessoas, trabalhos, ideias.”
O professor afirma que é interessante quando cada artista vai apreciar a mostra e vê sua obra integrada entre a multidão de rostos. E sente a sua imagem à disposição do toque de todos. “Não há diferença de gênero, de etnias, o público não identifica quem é artista ou não. Todos os trabalhos são do mesmo tamanho, lembrando a identidade individual como um átomo de uma totalidade.”
A exposição Toque será inaugurada nesta quinta-feira, dia 7, às 17 horas, e ficará em cartaz até 28 de março, das 8h30 às 18h30, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP (Rua da Biblioteca, 21, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis.