“Estudos Avançados” discute cidade, ambiente e universidade

Revista do Instituto de Estudos Avançados da USP traz textos sobre Amazônia, planejamento urbano e Gilberto Freyre

 25/04/2019 - Publicado há 5 anos
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Os desafios de metrópoles como São Paulo no século 21 são um dos temas abordados na nova edição da revista Estudos Avançados – Foto Marcos Santos/USP Imagens

O número 95 da revista Estudos Avançados, publicação do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, dedica boa parte de suas páginas aos desafios contemporâneos do ambiente e das cidades. A edição coloca em pauta o conflito entre ambientalismo e interesses econômicos que levam ao desmatamento. A intensificação da ameaça antiecológica que atinge a Amazônia e o Nordeste recebe atenção especial.

Esse é o tema do artigo Territórios e alianças políticas do pós-ambientalismo. O texto encara o desmatamento como problema de governança e dirige sua atenção para os assentamentos no Estado do Pará, com destaque para o reconhecimento de direitos políticos de categorias minoritárias.

“Constata-se atualmente um recrudescimento das agressões contra as populações rurais (indígenas, caboclas, quilombolas e assentados) no Brasil, e na Amazônia em particular”, escreve o coletivo de autores formado pelos pesquisadores do Museu Paraense Emilio Goeldi Roberto Araújo e Ima Célia Guimarães Vieira, os pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Peter Mann de Toledo e Eloi Dalla-Nora, o professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) Felipe Milanez e a doutoranda da Universidade Federal do Pará (UFPA) Andréa dos Santos Coelho.

“Além do aumento do número de assassinatos de líderes comunitários em conflitos fundiários, nos dois últimos anos foram organizados verdadeiros ataques bélicos, em que dezenas de homens armados investem nas aldeias em pick-ups, deixando mortos, feridos e mutilados em seu rastro”, prossegue o artigo. “Algumas vezes, sob o olhar complacente quando não cúmplice da Polícia local. As autoridades declaram-se impotentes e, não raro, buscam culpabilizar as vítimas.”

Já o contexto urbano aparece em textos que resgatam a reflexão brasileira sobre o tema e discutem processos de degradação e recuperação das cidades.

É o caso de Fim das utopias? A cidade de São Paulo e a discussão do urbanismo contemporâneo, artigo conjunto do Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP Carlos Guilherme Mota e do professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie Antonio Claudio Pinto da Fonseca.

“Hoje, qual o horizonte utópico?”, perguntam os autores. “O ponto mais evidente e sensível na construção de um novo futuro, e que então mereceu certa atenção, foi o da cidade, da urbanização e do urbanismo, pois a cidade seria então, e deverá voltar a ser, irrevogavelmente, o principal motor das transformações desejadas. Há que se recordar, porém, os erros do urbanismo moderno.”

Entre os erros discutidos pelos autores estão a Brasília modernista que perdeu a escala humana e o bairro alto da região central de Lisboa, desertificado pelo aumento das atividades ligadas ao lazer e ao entretenimento.

Qual seria a estratégia efetiva para lidar com problemas tão variados? “A superação da ideia da busca da eficiência como paradigma, que, de tão forte, em certo momento se apresenta quase que como único, é o que trará para os arquitetos do século 21 a possibilidade de compreender e repropor novas possibilidades da arquitetura a partir de vivências culturais próprias e constitutivas de um novo espírito para o lugar e para o tempo”, propõem os autores.

Outro aspecto da discussão urbana é tema de A cidade no pensamento brasileiro, do século 16 ao século 20, do professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie Candido Malta Campos. O pesquisador resgata Gilberto Freyre em artigo que passeia por cinco séculos de reflexões sobre as cidades brasileiras.

Falando sobre o autor de Casa Grande & Senzala, Campos salienta no autor o persistente ranço das concepções antiurbanas, associadas às posturas anti-industrialistas que marcaram a ideologia dominante no Brasil do início do século 20.

“Se tais preconceitos não deixam de estar presentes em uma obra influente como a de Gilberto Freyre”, escreve Campos, “é porque a permanência das matrizes antiurbanas no pensamento brasileiro está indissociavelmente ligada à construção das versões dominantes de nossa cultura e de nossa identidade ao longo dos últimos 150 anos”.

Universidade

A nova edição de Estudos Avançados traz também escritos sobre a própria Universidade de São Paulo, como “A universidade em 2022”, artigo do Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e ex-reitor da USP Jacques Marcovitch. Um dos temas tratados pelo docente é o projeto Desempenho Acadêmico e Comparações Internacionais, elaborado conjuntamente pelas três universidades estaduais paulistas – USP, Unesp e Unicamp.

“As ações já empreendidas pelas três universidades podem ser resumidas em quatro diretrizes orientadoras”, escreve Marcovitch. “Mudar a mentalidade relativa à avaliação de desempenho e às comparações externas; capacitar as universidades, por meio de novas competências e aquisição de novas habilidades; construir plataformas interoperáveis que levem em conta a diversidade da missão e das concepções de universidade; e promover uma nova cultura de utilização de indicadores integrados à estratégia institucional, de forma inteligente e contemporânea.”

A nova edição da revista Estudos Avançados – Foto: Reprodução

Integram ainda a publicação artigos sobre saúde e precaução, que tratam da judicialização da saúde, coaching de bem-estar e adoção de medidas de precaução no uso de inovações científicas. Na seção de resenhas, apontamentos sobre Os Donos do Poder, de Raymundo Faoro, Em Busca do Desenvolvimento Perdido, de Luiz Carlos Bresser-Pereira e As Contradições do Lulismo: a Que Ponto Chegamos?, obra organizada por André Singer e Isabel Loureiro.

Estudos Avançados, número 95, publicação do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, 330 páginas, R$ 30,00.

A revista está disponível gratuitamente em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0103-401420190001&lng=pt&nrm=iso.

Mais informações no site www.iea.usp.br/revista e pelo telefone (11) 3091-1675.


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