Academia Paulista de Letras discute censura na literatura infantojuvenil

Evento ocorre nesta quinta-feira, dia 9, com a presença de Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Maurício de Sousa e Pedro Bandeira

 Publicado: 06/05/2024
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Imagem publicada pela Academia Paulista de Letras (APL) para divulgar o evento Censura e Literatura Infantojuvenil – Foto: Reprodução/Academia Paulista de Letras (APL)

 

Na era da internet, apresentar a literatura como algo atraente ao público mais jovem pode parecer difícil. Diante da cultura do cancelamento e da censura na literatura, o desafio se torna ainda maior. É com o intuito de vencer essas tendências e de fortalecer a literatura infantojuvenil que a Academia Paulista de Letras (APL) promove, nesta quinta-feira, dia 9, o evento Censura e Literatura Infantojuvenil. Das 9h às 17 horas, no auditório da APL, em São Paulo, nomes renomados da literatura brasileira voltada para crianças e adolescentes discutirão temas relacionados ao alcance da literatura para esse público nos dias atuais, seus entraves e facilidades. A inscrição é gratuita e pode ser realizada até esta quarta-feira, dia 8, pelo e-mail da secretaria da APL (secretaria@academiapaulistadeletras.org.br).

Cronograma

A professora Mary Del Priore – Foto: Reprodução YouTube

Idealizado pela professora e historiadora Mary Del Priore, que já lecionou na USP e ocupa a cadeira número 39 da APL, e por Jézio Gutierre, diretor da Editora Unesp, o evento será aberto pelo presidente da Academia Paulista de Letras, Antonio Penteado Mendonça, cadeira número 32 da Academia. Em seguida, haverá uma palestra com a escritora Ana Maria Machado, cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras (ABL), com o tema A Importância do Professor Leitor, em que vai abordar formas de promover a leitura infantil. Depois, os professores Marisa Lajolo, especialista em Monteiro Lobato, e José Carlos Sebe, historiador e professor aposentado da USP, dirigem a palestra Lobato para Crianças: Censura, Apagamento, Cancelamento e Rasura, com mediação de José Renato Nalini, cadeira número 40 da APL. Como Mary Del Priore adiantou ao Jornal da USP, Marisa vai “dissecar Monteiro Lobato”, enquanto Nalini “dará o contexto histórico em que a literatura infantil de Monteiro Lobato nasceu”.

A seguir, haverá uma pausa para o almoço e, depois, os escritores Pedro Bandeira e Ilan Brenman darão uma palestra homônima ao evento (A Censura e a Literatura Infantojuvenil), com mediação de Mary Del Priore. Por fim, a escritora Ruth Rocha e o quadrinista Mauricio de Sousa — cadeiras 38 e 24 da Academia Paulista de Letras, respectivamente — farão a palestra O Prazer de Ler Nossa Literatura Infantojuvenil, sob mediação do escritor Gabriel Chalita, também autor de livros infantis, ocupante da cadeira número 5 da APL. “São ‘pratas da casa’ que vão contar um pouco sobre como se tornaram escritores, como escolheram seus personagens”, explica Mary Del Priore.

Ao Jornal da USP, Pedro Bandeira falou sobre situações em que teve seus livros censurados por pais e escolas ao longo de sua carreira, por fazer menções a temas ligados à adolescência, por exemplo. “Houve uma vez em que recebi uma carta de uma jovem que, ao ser vista lendo A Droga da Obediência, foi agredida pela mãe e teve o livro queimado”, lembra. Ele diz que a censura aos seus livros, embora seja feita por uma minoria, costuma estar relacionada tanto ao conservadorismo quanto à educação sexual. “Já sofri até boletim de ocorrência de pais de estudantes, e sei de professores que foram criticados por sugerirem livros meus. Mas, se eu for escrever para jovens e não puder citar características inerentes à realidade, como a menstruação, o afeto e o uso de roupas íntimas, os jovens não vão se identificar. E aí eu paro de escrever.”

Esforços por novos pequenos leitores

“A literatura infantil ao alcance de todos”. É esse o impacto que Mary Del Priore e a organização de Censura e Literatura Infantojuvenil desejam. A ideia, segundo ela, é atrair mais crianças para a literatura em um contexto de ascensão dos meios digitais e, paralelamente a isso, incentivar o surgimento de escritores de histórias infantis e a publicação de seu trabalho. “Se nós não fizermos um esforço para que a literatura infantil multiplique os seus pequenos leitores, para que os pais adiram à ideia de que a leitura é fundamental para a formação dos seus filhos e para que os professores estejam preparados para promover a literatura infantojuvenil, aí não será possível apontar um horizonte para quem faz e para quem lê esse tipo de literatura.”

Mary acredita que os assuntos que permeiam o evento não vêm sendo devidamente discutidos social e midiaticamente. “Nós tivemos dois exemplos recentes de censura”, lembra. O primeiro exemplo a que ela se refere é o da demissão de Henrique Rodrigues, idealizador do Prêmio Sesc de Literatura, que acusou o Sesc de tentar censurar o livro Outono de Carne Estranha (Record, 2023), último vencedor da categoria Romance — o livro conta uma história de amor entre dois garimpeiros. O ocorrido levou ao fim da parceria de 20 anos entre o Grupo Record, que publicava as obras vencedoras do prêmio, e o Sesc. Já o segundo exemplo está ligado à censura do livro O Avesso da Pele (Companhia das Letras, 2020), de Jeferson Tenório. A obra discute o racismo e a violência policial ao contar a história de Pedro, um jovem cujo pai foi assassinado em uma abordagem policial. O livro também aborda questões referentes à sexualização de corpos negros. Sob a alegação de que O Avesso da Pele, vencedor do Prêmio Jabuti de 2020, contém “expressões impróprias para menores de 18 anos”, as secretarias de Educação de Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná pediram que o livro fosse recolhido das escolas públicas em março deste ano.

 

O evento Censura e Literatura Infantojuvenil acontecerá nesta quinta-feira, dia 9, das 9 às 17 horas, no auditório da Academia Paulista de Letras (APL), localizada no Largo do Arouche, 321, centro, em São Paulo, próximo à estação República do metrô. As inscrições são gratuitas, limitadas e devem ser feitas por meio do e-mail secretaria@academiapaulistadeletras.org.br até esta quarta-feira, dia 8. Mais informações estão disponíveis no site da APL.

 

*Estagiário sob supervisão de Marcello Rollemberg e Roberto C. G. Castro


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