Os resultados mostraram que o aumento da atividade física serviu para redução das crises de asma - Arte sobre fotos de Cecília Bastos/USP Imagens

Sedentarismo, inatividade física e ansiedade são as principais comorbidades ligadas à asma

Pesquisa pioneira da Faculdade de Medicina da USP e da Universidade de Newcastle (Austrália) abre perspectivas para se desenvolver tratamentos que não levem em conta apenas a parte respiratória da doença

 

26/02/2021
Por Beatriz Azevedo
Arte: Moisés Dorado

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 300 milhões de pessoas sofrem com asma. Um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em parceria com a Universidade de Newcastle (Austrália), registrou, pela primeira vez, as comorbidades ligadas à asma. Dentre elas, inatividade física, sedentarismo e ansiedade se destacam como as principais. Os pesquisadores ainda publicaram outro estudo que aponta a prática regular de exercícios como fator positivo no tratamento da doença. 

Cabe ressaltar que, de acordo com os pesquisadores, inatividade física difere de sedentarismo. Enquanto o primeiro termo se caracteriza por uma ausência total de exercícios físicos, o segundo se refere a pessoas que passam grande parte do tempo sentadas. 

Celso Ricardo Fernandes de Carvalho – Foto: FMUSP

As conclusões fazem parte dos estudos Identification of asthma phenotypes based on extrapulmonary treatable traits, publicado pelo European Respiratory Journal, e A Behavior Change Intervention Aimed at Increasing Physical Activity Improves Clinical Control in Adults With Asthma: A Randomized Controlled Trial. O trabalho abre perspectivas para o desenvolvimento de tratamentos que não levem em conta apenas a parte respiratória da doença, podendo envolver uma equipe multiprofissional para atingir o bem-estar do paciente. 

O estudo é pioneiro em identificar grupos com base em características tratáveis extrapulmonares em pessoas com asma moderada a grave. 

“Até hoje, pensava-se que inatividade física e sedentarismo fossem consequências na vida dos asmáticos porque muitos acreditam que a falta de exercícios ajuda a prevenir os ataques, mas descobrimos que é justamente o contrário”, diz ao Jornal da USP o professor Celso Carvalho, líder da pesquisa.

Comorbidades ligadas à asma

Para chegar aos resultados, a pesquisa envolveu 269 pacientes com asma moderada e grave, sendo 243 do Brasil e 53 da Austrália. Os participantes eram, em sua maioria, do sexo feminino, com sobrepeso, baixa atividade física, alto tempo de sedentarismo e leve obstrução das vias aéreas. Dentre os participantes, 68% tinham asma não controlada e 64% experimentaram — pelo menos — uma crise, nos últimos 12 meses.

A partir disso, 15 comorbidades foram identificadas: osteoporose, disfunção das cordas vocais, dislipidemia, doença intestinal, hipotireoidismo, diabete, dermatite, síndrome da apneia obstrutiva do sono, sinusite, comprometimento musculoesquelético, distúrbio psicológico, hipertensão, obesidade, doença do refluxo gastroesofágico e rinite. As seis últimas foram as comorbidades prevalentes. 

O estudo mostrou que 98% dos participantes tinham pelo menos uma comorbidade e 50% tinham mais de três delas. Assim, os pesquisadores conseguiram classificá-los em quatro grupos, ou fenótipos. 

Fisicamente ativos
0 %

 A maioria mulheres, com sobrepeso, que tinha a asma controlada

Moderadamente inativos,
obesos e ansiosos
0 %

Em sua maioria mulheres, obesas e apresentando sintomas de asma não controlada

Pouco ativos
0 ,5%

Este grupo tinha menos pacientes do sexo feminino,

estavam com sobrepeso, mas um número menor de pacientes obesos. Em sua maioria, apresentam sintomas de asma controlada

Fisicamente inativos,
obesos e ansiosos
0 %

A obesidade esteve presente em

0 %
dos participantes,

todos eram fisicamente inativos e com alto volume de tempo sedentário. Os participantes apresentaram aumento dos sintomas de ansiedade e depressão. A maioria apresentava asma não controlada mesmo recebendo o tratamento medicamentoso adequado

Fonte: informações do artigo    Icones: Flaticon

De maneira geral, o que se viu foi que traços mais elevados de sedentarismo, o sexo feminino, obesidade e sintomas de ansiedade foram associados a maiores chances de risco de crises de asma. O estudo comprovou que a prática regular de atividades físicas é um fator protetor para a hospitalização por asma. 

Exercícios físicos como tratamento

No segundo estudo, os cientistas trabalharam com um grupo de 51 pessoas, em sua maioria mulheres obesas, que aceitaram procurar elevar o nível de atividade física durante oito semanas. “Por aumentar a atividade física, estamos falando apenas em caminhar mais. Não foi preciso fazer exercícios físicos nem entrar numa academia”, explica Carvalho ao Jornal da USP. Cada participante recebeu um acelerômetro de pulso para monitorar a quantidade de passos diária.

A pesquisa partiu dos resultados do primeiro estudo para comprovar se uma intervenção para mudança de comportamento dos pacientes adultos com asma moderada a severa, com o objetivo de aumentar a atividade física, alteraria o controle clínico da asma. Os resultados mostraram que o aumento da atividade física serviu para melhorar a qualidade de vida, combater o sedentarismo e reduzir a ansiedade. 

Observou-se também a redução das crises de asma e do uso de medicamentos para o controle da doença. A melhora no controle clínico da asma foi estatisticamente significativa e clinicamente importante. “Nossa descoberta foi que os participantes experimentaram menos crises e utilizaram menos corticosteroide oral ao longo do período de intervenção,” conclui Carvalho.

Mais informações: e-mail cscarval@usp.br, com o professor Celso Carvalho


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