Os fatores específicos para o comportamento suicida encobertos, por sua vez, foram idade mais jovem (o que pode estar relacionado a uma menor capacidade de avaliar adequadamente os riscos e as características impulsivas que predominam nessa faixa etária), maior número de filhos (o que pode refletir o estresse e o peso das responsabilidades parentais em indivíduos com transtornos de controle de impulsos), uso de tabaco ou histórico de tratamento para dependência de fumo (sugerindo que o consumo de substâncias pode estar ligado a comportamentos autodestrutivos) e transtorno explosivo intermitente (quadro caracterizado por explosões de raiva desproporcionais, o que reflete a ligação entre impulsividade e risco de comportamentos autodestrutivos).
Por fim, os fatores protetores foram a maior frequência de participação religiosa, que foi importante contra comportamentos suicidas encobertos, achado em consonância com outros estudos que mostram o papel positivo da religiosidade na redução do risco suicida, e diagnóstico de transtorno de escoriação, um tipo específico de TCI que leva a pessoa a lesionar a própria pele. “De forma interessante, pacientes com transtorno de escoriação demonstraram menor probabilidade de engajar-se em comportamentos suicidas encobertos, sugerindo que esse quadro pode funcionar como uma via de expressão de impulsividade menos letal em comparação com outros”, diz Damiano. De acordo com os pesquisadores, esses achados reforçam a importância de abordar os comportamentos suicidas abertos e encobertos e considerar fatores individuais, sociais e clínicos ao avaliar o risco suicida em pacientes impulsivos. Eles acreditam que as conclusões obtidas no estudo podem ser aplicadas imediatamente na prática clínica.
“Os profissionais de saúde mental devem avaliar não apenas as tentativas de suicídio explícitas, mas também os comportamentos encobertos que aumentam o risco de morte, como direção perigosa ou exposição a situações de risco”, opina Damiano. Ele ressalta que esses comportamentos são frequentemente subestimados e, ao identificá-los, os profissionais de saúde podem intervir de forma mais eficaz para prevenir tentativas de suicídio. “Além disso, os fatores de risco identificados acima devem ser investigados em todos os casos de risco de suicídio em pacientes com elevada impulsividade.”
O psiquiatra ainda destaca a importância de avaliar tanto os fatores clínicos quanto os de personalidade em pacientes impulsivos. Isso porque o estudo mostrou que traços como alta hostilidade indireta e baixo autodirecionamento estão fortemente ligados a comportamentos suicidas. Além disso, os dados sugerem que fatores ligados à vulnerabilidade social, como baixa escolaridade e falta de apoio familiar, também desempenham um papel significativo no risco suicida, indicando que intervenções focadas em suporte social podem ser igualmente cruciais. O suicídio é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um problema de saúde pública global. Estima-se que 700 mil pessoas no mundo morram anualmente por essa causa, 80% em países de renda média e baixa. No Brasil, em 2021, foram 15 mil mortes por suicídio (uma a cada 34 minutos) e a terceira maior causa de óbito entre jovens de 15 a 29 anos. O artigo Unveiling Overt and Covert Suicidal Behavior in a Sample of Brazilian Impulsive Outpatients pode ser lido neste link.
Texto original: Estudo mapeia fatores de risco e proteção para comportamentos suicidas