Uma pesquisa publicada na revista científica Cell analisou, ao mesmo tempo e de forma integrada, diversos aspectos da vacina contra Herpes-Zóster, doença conhecida também como cobreiro. O trabalho de gerar e decifrar as relações entre milhões de dados exigiu a coordenação de pesquisadores em 9 instituições americanas e brasileiras.
Da Universidade de São Paulo, participou o biólogo Helder Nakaya, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e do laboratório de Biologia de Sistemas Computacional. Ele classifica a nova metodologia como vacinologia de sistemas.
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Milhões de dados
A vacina foi aplicada em 77 pessoas entre 25 e 79 anos. Foram coletadas amostras de sangue antes da vacinação, um dia depois e em vários dias até 6 meses após a aplicação. Em todos esses momentos os cientistas mediram os anticorpos produzidos, outras proteínas circulantes no sangue, as células do sistema imunológico ativadas, os metabólitos e a presença ou não do DNA do vírus. Metabólitos são pequenas substâncias que participam do funcionamento das células.
Mais do que trazer respostas específicas, o objetivo da pesquisa foi levantar correlações entre dados nunca antes detectadas justamente pela falta de uma análise tão ampla. A partir dessas correlações devem ser feitos novos estudos.
Alguns resultados já foram observados. A vacina contra herpes-zóster não estimula o sistema imune inato – a primeira resposta do corpo – da mesma forma que as outras vacinas, como a da gripe ou da febre amarela. Também foi encontrada uma relação entre níveis de colesterol e a resposta à vacina. E a influência de duas substâncias: o inositol fosfato e o butirato.
Segundo Nakaya, uma das vantagens dessa metodologia é permitir iniciar uma pesquisa sem ter uma hipótese prévia. A hipótese vem do cruzamento dos dados.
A doença
O herpes-zóster, ou varicela-zóster, é o vírus da catapora. Depois que a pessoa tem a doença, o vírus fica adormecido e pode voltar a causar sintomas anos mais tarde. Em geral, aparecem pequenas bolhas avermelhadas em um lado do corpo – acompanhadas de muita dor.
A vacina contra herpes-zóster é recomendada para pessoas com mais de 50 anos, mas não funciona de forma igual para todos. No geral, a eficácia é de 50%. Mas apenas 37% dos idosos com mais de 70 anos ficam protegidos contra a doença.