Desenvolvida em parceria com a USP máscara cirúrgica antiviral que permite uso por 12 horas

Produto é recoberto por uma substância que torna reativo o oxigênio ao entrar em contato com o tecido, eliminando o coronavírus

 08/10/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 26/05/2022 às 12:15
Ausência de toxicidade é uma das vantagens, já que uma quantidade muito pequena da substância já é suficiente para inativar o SARS-CoV-2. Especialistas ressaltam que o uso de máscaras de qualquer tipo não garante 100% de segurança e deve fazer parte de um conjunto de cuidados preventivos, que incluem o distanciamento social e a higienização constante das mãos  – Foto: Divulgação

Um material desenvolvido pela empresa Golden Technology em parceria com o Instituto de Química (IQ) e o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), ambos da USP, se mostrou capaz de inativar o coronavírus de forma prolongada em máscaras cirúrgicas. Resultado de um investimento de 2 milhões de reais, o produto foi testado no Laboratório de Virologia Clínica e Molecular do ICB, coordenado pelo pesquisador Edison Luiz Durigon, onde foi aprovado com 99,9% de eficácia na eliminação do vírus. Batizada de Phitta Mask, a nova máscara está em processo de aprovação na Anvisa e já está disponível no mercado ao custo de R$ 1,70 cada unidade.

Edison Luiz Durigon – Foto: ICB-USP

Um dos diferenciais da nova máscara é que pode ser usada por mais tempo do que as máscaras cirúrgicas comuns. O efeito antiviral e a eficiência de filtração bacteriana (BFE) permanecem por 12 horas, enquanto a máscara cirúrgica comum precisa ser trocada a cada duas horas e descartada. É possível, por exemplo, usar a máscara antiviral durante três horas em um dia e continuar usando nos dias seguintes até completar 12 horas de uso.

Outra vantagem é a ausência de toxicidade, uma vez que uma quantidade muito pequena da substância já é suficiente para inativar o SARS-CoV-2. “Já testamos no laboratório vários antivirais que funcionaram contra o vírus, mas nenhum em uma concentração tão baixa quanto esse”, ressalta o professor Durigon. Além disso, a substância não é liberada no meio ambiente, seja durante seu uso ou no descarte. “O material pode ser processado em qualquer sistema de incineração convencional sem deixar resíduos tóxicos”, destaca o professor Koiti Araki, do Laboratório de Química Supramolecular e Nanotecnologia do IQ.

Mecanismo de ação

Koiti Araki – Foto: IEA-USP

Segundo Araki, o material – cujo nome é mantido em segredo por causa do pedido de patente – interage com o oxigênio do ar tornando-o mais reativo. “O oxigênio, quando entra em contato com o tecido, se torna tão ativo quanto uma água oxigenada. Quando o vírus entra em contato com o material, ele é inativado. O diferencial é a produção contínua de pequenas quantidades em equilíbrio de um oxidante, usando uma substância que já existe naturalmente, e a segurança de um produto que não apresenta toxicidade relevante e é isento de metal”, destaca.

A substância vinha sendo estudada há cinco anos pela empresa em parceria com o IQ. “Esse ativo é difícil de produzir e os rendimentos eram muito baixos. No laboratório, conseguimos desenvolver um processo que diminuiu em mais de 90% a quantidade de resíduos e reagentes, e o tempo de produção”, conta Araki.

Testes de eficiência

No início da pandemia, o produto foi testado em diferentes tecidos no Laboratório de Virologia Clínica e Molecular do ICB para verificar o seu potencial antiviral. O primeiro passo foi testar a citotoxicidade da substância. “Muitos produtos matam o vírus, mas também matam as células. Se o produto fosse tóxico, não conseguiríamos testar a sua eficácia em cultura de células. Também foi necessário verificar se o próprio tecido não era tóxico para as células”, explica Durigon.

As máscaras também foram testadas em pacientes diagnosticados com covid-19 no Hospital das Clínicas, que usaram a máscara comum por duas horas e depois a máscara com o ativo por duas horas. Os indivíduos fizeram testes PCR antes e depois do uso das máscaras. “Isso é importante para saber se o produto realmente inativou o vírus ou se a máscara estava sem vírus porque os pacientes não estavam mais doentes e não eliminavam vírus”, afirma o pesquisador. O efeito antiviral de 99,9% foi observado em máscaras cirúrgicas, mas o mesmo não aconteceu com as máscaras N95 devido à baixa adesão do material às mesmas.

Outras aplicações

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O ativo pode ser aproveitado para uma série de produtos além das máscaras. A tecnologia está sendo testada em filtros de ar HEPA, presentes em hospitais, e em produtos para higiene bucal, como enxaguante e creme dental. O enxaguante, que está em fase final de testes, apresentou resultados promissores na eliminação do coronavírus. A empresa também estuda aplicar o produto em enxovais hospitalares, revestimentos de assentos de aeronaves e material escolar, por exemplo.

Para usar o ativo em máscaras de tecido reutilizáveis, os pesquisadores analisam a possibilidade de utilizar um refil descartável dentro da máscara. “A aplicação direta no tecido não seria possível porque a atividade do material poderia ser alterada durante a lavagem, afetando sua eficácia na eliminação do vírus”, afirma Araki.
Segundo Lourival Flor, diretor da Golden Technology, a empresa já está com propostas para exportar a máscara para o Peru, Colômbia, Honduras e Guatemala, e está trabalhando para registrar o produto na Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos.

Especialistas ressaltam que o uso de máscaras de qualquer tipo não garante 100% de segurança e deve fazer parte de um conjunto de cuidados preventivos, que incluem o distanciamento social e a higienização constante das mãos.

Da Acadêmica Agência de Comunicação


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