Fotos: Wikimedia Commons e Pixabay

Combinação de óleos essenciais de plantas pode ajudar no combate à praga de milho armazenado

Estudo da USP, em parceria com a Unesp, mostra que a combinação de seis óleos essenciais obtidos de plantas, entre elas, a erva-de-santa-maria, foi promissora para controlar a infestação do gorgulho do milho

 06/06/2022 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 08/06/2022 às 11:31

Texto: Brenda Marchiori

Arte: Rebeca Fonseca

Estima-se que mais de 30% dos grãos produzidos em todo o mundo sejam perdidos devido a infestações de pragas durante o armazenamento. Uma dessas pragas é o inseto Sitophilus zeamais, conhecido como gorgulho do milho, que atinge os grãos tanto no campo, antes da colheita, quanto no armazenamento. Essa praga pode diminuir substancialmente o peso, o valor nutricional, a taxa de germinação e o valor comercial dos grãos, além de aumentar a vulnerabilidade à infestação de fungos. Mas pesquisadores brasileiros podem ter encontrado a solução quando testaram combinações de óleos essenciais, principalmente o obtido da erva-de-santa-maria, conhecida popularmente como menstruz, mastruz ou mastruço. Os resultados se mostraram promissores para o combate do inseto nos grãos armazenados.

Os resultados estão no artigo Synergism between essential oils: a promising alternative to control Sitophilus zeamais (Coleoptera: Curculionidae) publicado na revista científica Crop Protection. O estudo foi realizado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, em colaboração com uma equipe da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu.

O Brasil ocupa o terceiro lugar na produção de milho em todo o mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos e da China. A expectativa é que o País alcance 116 milhões de toneladas na safra 2021/22, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).  Mas a safra pode estar sujeita a pragas, o que prejudica a produção final.

Atualmente, o combate ao gorgulho do milho é feito com a fosfina, inseticida sintético que é dispersado sobre os grãos, mas que tem sido cada vez menos eficaz, devido ao desenvolvimento de resistência, o que evidencia a necessidade de se buscar alternativas para o manejo dessa e de inúmeras outras pragas que têm se mostrado mais resistentes com o uso desenfreado de inseticidas.

O uso de óleos essenciais traz ainda vantagens, de acordo com o professor Antônio Eduardo Miller Crotti, do Departamento de Química da FFCLRP e um dos autores do estudo. “Como os óleos essenciais são misturas de substâncias, a probabilidade do desenvolvimento de resistência por parte do gorgulho do milho é bem menor”, afirma.

Repelência e toxicidade

Para a realização do estudo, foram coletadas e identificadas seis espécies de plantas; duas delas bastante conhecidas pela população, a erva-de-santa-maria, Dysphania ambrosioides, e o gerânio, Pelargonium graveolens. As outras quatro espécies, informa Crotti, são do gênero Piper, o mesmo da pimenta-longa.

Os pesquisadores extraíram os óleos essenciais das folhas dessas plantas e identificaram quais substâncias estavam presentes. Em seguida, realizaram alguns ensaios para investigar a repelência e a toxicidade por fumigação (uso pelo processo de vapor ou fumaça) desses óleos. Dessa forma, foram avaliados o quão tóxicos foram os óleos essenciais testados quando eles penetraram pelas vias aéreas do gorgulho do milho.

Os pesquisadores testaram 15 combinações de seis óleos essenciais. “Com exceção do óleo essencial da erva-de-santa-maria, todos os óleos essenciais, quando testados individualmente, não apresentaram toxicidade por fumigação sobre o gorgulho do milho. No entanto, quando eles foram testados em combinações binárias com o óleo essencial da erva-de-santa-maria, a toxicidade por fumigação das misturas foi bem maior que a soma das atividades dos dois óleos testados individualmente.” Isso quer dizer, explica o professor, que o óleo essencial da erva-de-santa maria não apenas apresentou atividade repelente e fumegante, como também potencializou a toxicidade dos demais óleos essenciais testados frente ao gorgulho do milho.

“Nossos ensaios foram realizados em quintuplicata, com 50 insetos por replicata. Então, basicamente, a gente dispôs esses 50 insetos em uma câmara de fumigação: consistia de um recipiente de acrílico fechado, em cuja tampa encontrava-se o óleo essencial, ou a mistura de óleos essenciais, em diferentes concentrações”, descreve o professor.

Benefícios da erva-de-santa-maria

Outra vantagem apresentada no estudo, informa o professor, é que a erva-de-santa-maria é uma planta de fácil cultivo, cuja obtenção de grandes quantidades do óleo essencial é “relativamente fácil” sem prejuízos à biodiversidade. Além disso, por vir de uma fonte natural, o óleo essencial da  erva não agride a biodiversidade. Segundo o professor, “como os óleos essenciais são voláteis, eles possuem baixa persistência no meio ambiente”.

Em um outro trabalho realizado pelo grupo da FFCLRP, os pesquisadores já haviam observado que o óleo essencial da erva-de-santa-maria é capaz, também, de matar vermes adultos de Schistosoma mansoni, o parasita causador da esquistossomose, ou barriga d’água, em concentrações muito baixas.

Antônio Eduardo Miller Crotti – Foto: FFCLRP/USP

Crotti conta que já existem, na literatura científica, inúmeros estudos sobre atividades biológicas dos óleos essenciais investigados neste trabalho. Contudo, a bioatividade desses óleos frente ao gorgulho do milho nunca havia sido explorada. “Por isso, eu acredito que, além de reportar atividades promissoras, nosso trabalho também reforça a importância da pesquisa por alternativas que sejam economicamente viáveis para a solução de problemas da nossa sociedade e que não fiquem apenas no âmbito acadêmico”, conclui o professor.

Além do professor Crotti, também assinam o artigo Synergism between essential oils: A promising alternative to control Sitophilus zeamais (Coleoptera: Curculionidae) as pesquisadoras da FFCLRP Lívia Stenico Tanajura e Tatiana Manzini Vieira, e pelos pesquisadores da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp em Botucatu Edson Luiz Lopes Baldin, Alisson da Silva Santana, Thais Lohaine Braga dos Santos, Yago Alves Baptista, Maria Clezia dos Santos e Ana Paula Santana Lima.

Ouça no player abaixo entrevista do professor Antônio Eduardo Miller Crotti, ao Jornal da USP no Ar, Edição Regional.

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